No
melhor dos sentidos, ares beckettianos e, em especial, de Esperando Godot, rondam aqueles passeios nos bosques suíços de dois
diplomatas, um russo e outro norte americano que discutem, ao longo de intermináveis
estações do ano, caminhos para o desarmamento e para a almejada, mas nunca
encontrada, paz mundial. Paz? Godot? Tudo a ver!
O
texto de Lee Blessing fortalece-se com os diálogos ágeis e fluentes, que
permitem até certos momentos de leveza e humor, apesar de tratar de assunto
árido e com alta carga dramática. O texto, aliás, vai muito além disso, onde os
dois homens (antagônicos ou os dois lados de qualquer ser humano) discutem o
sentido da vida e os destinos da humanidade.
Emílio
Di Biasi dirigiu e atuou como o russo numa bela montagem acontecida no ano 2000
no Teatro Alfa, onde Beto Bellini interpretava o norte americano. Desta vez
Bellini encarrega-se da personagem do diplomata russo deixando para o jovem e
talentoso Gustavo Merighi o papel do norte americano.
Em
seu livro Teatro, David Mamet comenta
que “o teste de um bom cenário é: ele é melhor do que o palco
nu?”. Para que encher o palco de penduricalhos quando o essencial é a
imaginação do espectador? Marcelo Lazzaratto segue a risca esse conceito
colocando apenas um banco no amplo espaço cênico do Elevador e com poucos recursos de luz (também de sua autoria), de
figurino (Ricardo Pettine) e com apenas dois adereços (uma folha e uma flor)
divide o espetáculo nas quatro estações do ano onde a ação acontece. A direção
de Lazzaratto é precisa e totalmente concentrada no trabalho dos atores.
Beto
Bellini tem autoridade e excelente voz para interpretar Andrey, o diplomata
russo já há muito tempo exercendo essa função e consciente da ineficácia dessas
negociações. A juventude e o porte físico de Gustavo Merighi contribuem para a excelente
composição de John, o norte americano a princípio tímido e inseguro, que ainda
tem esperança que a paz possa ser negociada.
O
belo dispositivo colocado à frente da cena representaria o equilíbrio das
forças e dos pensamentos? O martelo ali colocado poderia representar o elemento
que romperia esse equilíbrio? Para este desavisado redator, não ficou clara a
simbologia do dispositivo.
Texto,
direção e atores da melhor qualidade. Querer mais é ser guloso!
UM
PASSEIO NO BOSQUE ainda tem três sessões neste ano no Espaço Elevador: Sexta e
sábado (21h) e domingo (19h). Até 22/12. NÃO DEIXE DE VER.
16/12/2019
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