Uma das vantagens do
teatro virtual ora praticado no Brasil devido ao isolamento social é a
possibilidade de assistirmos a espetáculos de vários estados. Nesse período
tive oportunidade de assistir a espetáculos, entre outros, do Rio Grande do
Sul, do Espírito Santo, do Rio Grande do Norte, da Bahia e do Rio de Janeiro e
de tomar conhecimento de atrizes, atores, diretores e dramaturgos de grande
talento.
No início de maio
assisti a Entre Homens, montagem carioca composta de duas peças curtas
do dramaturgo Rogério Corrêa (que eu não conhecia) dirigidas por Cesar Augusto.
Fiquei muito impressionado com a agilidade dos diálogos de Conectados,
peça que trata da comunicação virtual entre gays e com a densidade dramática de
Por Amor no qual um pai checheno (grande interpretação de Isaac Bernat)
tem que optar entre entregar o filho gay para os campos de concentração para
homossexuais onde ele será violentamente torturado e assassinado ou ele mesmo
matar o filho, evitando assim a tortura antes da morte.
Muito gentilmente o
autor me enviou o link da apresentação de sua peça De Bar em Bar,
dirigida por Isaac Bernat, que foi veiculada virtualmente em março deste ano.
Em 1960 o brasileiro
elegeu um louco (Jânio Quadros) e deu no que deu. Ficou 30 anos sem votar para
presidente e quando o fez em 1990, elegeu outro louco (Fernando Collor) e mais
uma vez, deu no que deu! A irresponsabilidade chegou ao auge depois de outros
30 anos quando em 2018 elegeu o genocida (Inominável). Três das quatro
personagens da peça de Corrêa muito provavelmente pertencem a esse grupo que
elegeu esses paranoicos.
De Bar em Bar acontece no dia 23
de junho de 1996, dia em que PC Farias foi assassinado junto com a namorada,
mas abrange um longo período que vai desde 1983 (Diretas já) e o fim da ditadura
militar em 1985, passando pela famigerada era Collor.
São quatro monólogos
que se entrelaçam: um garoto de programa que atua em saunas, uma dona de casa de
classe média, um empresário de direita que foi casado com uma mulher de
esquerda e uma cantora de axé que garante que transou com o presidente.
Em decorrência do
isolamento, cada intérprete representa em seu espaço, mas a harmonia do todo é
garantida pela segura direção de Isaac Bernat que concentra sua atenção no
trabalho do elenco e na perfeita integração das cenas, neste caso, com a
preciosa colaboração de Thiago Sacramento na direção de imagens.
Léo Wainer representa
com propriedade o empresário; Thadeu Matos exibe seu físico e seu talento como
o michê de sauna; Letícia Isnard exibe toda sua versatilidade como a impagável
cantora de axé com sotaque nordestino que garante que “os punheteiros do Brasil
a receberam de braços abertos e com a mão direita fechada” quando ela pousou
nua para a Playboy e, finalmente, a excelente Angela Rebello que é responsável
pela patética dona de casa que votou no Collor, mas que se arrepende até o
último fio de cabelo, pois a retenção da poupança lhe rendeu o AVC do marido e
a perda das economias provenientes da venda de dois imóveis. De uma maneira ou
de outra todas as personagens da peça, talvez com exceção do michê, estão
preocupadas com o seu umbigo, pouco se importando com os destinos do país e
esse individualismo está cada vez mais presente no povo brasileiro.
O link que recebi inclui um lúcido e esclarecedor bate papo do autor com o ótimo Guilherme Terreri (Rita von Hunty).
A peça não está
disponível no momento, mas preste muita atenção em um eventual retorno, porque
ela é ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL.
02/06/2021
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