terça-feira, 29 de junho de 2021

DENISE FRAGA

 

Durante seis anos e meio (1989-1995) Denise Fraga fez o Brasil rir a bandeiras despregadas com as trapalhadas da empregada Olímpia, personagem chave da peça Trair e Coçar É Só Começar de autoria de Marcos Caruso. Com seus dotes para a comédia, ela poderia se acomodar e ter enriquecido criando tipos para algum programa humorístico da televisão.

Mas a inquietude e o talento dessa grande atriz pediam mais e no auge do sucesso como Olímpia se desligou da peça de Caruso para trilhar novos caminhos.

Em 1995, a convite de Juca de Oliveira ela interpretou sob a direção de Fauzi Arap a comédia dramática A Quarta Estação. Eis as palavras da atriz no programa dessa peça: “Já há algum tempo vinha sentindo a necessidade de ir além. Seis anos de Trair e Coçar É Só Começar me trouxeram muito aprendizado, muita gente rindo, rindo muito na plateia. Felicidade sem igual. Mas eu pensava: Preciso lhes contar outras histórias, levá-los a outros lugares, preciso emocioná-los. Fazer rir e fazer chorar. Procurava esta história.... (A Quarta Estação) era tudo o que eu queria. O tipo de história que eu precisava. Além do privilégio de estar ao lado do Juca de Oliveira, os Deuses do teatro me reservaram outro mestre: Fauzi Arap... Agradeço ao Trair e Coçar pelos seis anos e meio de tablado e grandes companheiros. E também agradeço profundamente à minha coragem, minha vontade de voar”.

E como voou bonito essa moça!

Sua presença nos nossos palcos não foi constante, mas sempre marcada por produções importantes e grandes interpretações. Depois de sete anos ausente, ela voltou em Três Versões da Vida em 2003 e em uma participação em Ricardo III em 2006.

A partir de 2008 Denise, junto com seu marido Luiz Villaça, encarrega-se também da produção realizando grandes espetáculos como A Alma Boa de Set Suan (2008), Sem Pensar (2011), Galileu Galilei (2015), A Visita da Velha Senhora (2017) e Eu de Você (2019). Emprestou seu talento e versatilidade não só para grandes personagens do teatro universal como Chen-Te/Chui-Ta, Galileu e Clara Zahanassian, como também para a interpretação de textos contemporâneos.

Cabe lembrar sua emocionante participação em Elas Não Gostam de Apanhar (2012) na qual auxiliava com muito carinho uma debilitada Cleyde Yáconis (1923 – 2013) em sua última aparição em cena. Denise Fraga passa para o público essa imagem de uma pessoa muito simples e carinhosa, haja vista sua presença na plateia do teatro antes do início dos espetáculos recepcionando o público com um sorriso nos lábios e uma simpatia muito espontânea. Nada é artificial em Denise.

Todas essas memórias me vieram à tona após assistir à dilacerante interpretação da atriz no espetáculo virtual Dez Por Dez no qual ela interpreta uma mulher de 50 anos desiludida e desesperançada que vê no suicídio sua única saída. A cena dura apenas dez minutos, mas que são suficientes para Denise demonstrar o vazio e a tragédia que inundam a alma daquela mulher transfigurada pela dor. Trata-se de cena antológica e uma obra prima para fazer parte da história do teatro brasileiro. O texto conciso de Neil Labute revela em dez minutos tudo aquilo que outros autores levaram duas horas para mostrar. 

 


Assistir a esse momento pungente dessa grande atriz é obrigação para quem ama e, principalmente, para quem faz teatro.

Aos 56 anos de idade e com sua brilhante carreira, Denise Fraga está a merecer uma biografia que faça um apanhado de sua vida profissional. 

VIVA DENISE FRAGA!

VIVA O TEATRO!

 

20/06/2021

 

 

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