O equinócio da
primavera no hemisfério sul acontece no dia 23 de setembro e Maria Elena dança
no cemitério para celebrar a chegada da estação das flores. Esse fato é o dado inicial
desta instigante obra de Diego Fortes, mais conhecido por suas direções de O
Grande Sucesso e Molière.
Apoiando-se em
recursos muito originais que vão desde cartas, passando por receita de pisco sour,
notícias de jornal e indo até uma bula de Dipirona, Fortes constrói verdadeiro
caleidoscópio de situações para narrar a saga de Maria Elena, uma chilena filha
de Pepe Marciano (um pescador constantemente bêbado) que presencia o
desaparecimento do irmão e é uma possível testemunha do assassinato de Pablo
Neruda, tudo isso ao som das canções de Violeta Parra. Parece estranho e
absurdo? É realmente estranho e absurdo, mas como um caleidoscópio onde as
cores vão se encaixando para resultar em uma harmonia colorida, as peças de
Fortes também se encaixam dando um painel surpreendente não só do golpe de 1973
no Chile, mas de toda a Latino América. O dito teatro pós dramático é rico em
narrativas fragmentadas que em geral resultam num todo confuso e desagradável,
coisa que absolutamente não acontece na montagem de Marco Bravo, que também
interpreta Maria Elena e várias outras personagens, além de
narrar/comentar/criticar a trama dando margem a um bem vindo distanciamento
para dar tempo de o espectador refletir sobre o que acontece na cena.
Maria Elena chora a
morte do irmão em dois oceanos. Essa bela imagem para dizer que a personagem
mudou do Chile (Pacífico) para o Brasil (Atlântico) é uma das pérolas do mais
que surpreendente texto de Diego Fortes que recebeu direção e interpretação à
altura de Marco Bravo.
A montagem, simples
só na aparência, conta com a iluminação de Cesar Pivetti e as projeções de
Rafael Drodro que têm a grande qualidade de comentar a ação, além do sugestivo
figurino de Karen Brussttolin. Direção musical de Dugg Mont. Leitura em off de
trechos de Señorita Ana y los Gatos por Giselle Itiê
Pela maneira
extremamente criativa de contar a história, essa montagem reveste-se da maior
importância e desde já pode ser incluída entre as melhores obras realizadas
pelo teatro virtual neste primeiro semestre de 2021.
A peça foi gravada no Espaço Cultural Bricabraque e a apreciação da mesma em um palco de verdade vai ser uma das coisas que mais irei aguardar quando pudermos voltar para as ruas e para os nossos tão amados teatros.
23 DE SETEMBRO terá
transmissão gratuita e online pelo Sympla apenas nos dias 19 e 20 de junho, em
duas sessões às 20h e 22h.
Coloque na agenda em vermelho!! É IMPERDÍVEL!!
06/06/2021, triste
dia da morte de Camilla Amado.
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