Tenho muitos amigos
de fila. São aquelas pessoas que fui conhecendo ao longo da minha vida de
espectador tanto de cinema como de teatro.
Pessoas que conheci
na fila para assistir a um filme da Mostra Internacional de Cinema,
ou naquelas filas do SESC para garantir um ingresso para shows ou
espetáculos do Théâtre du Soleil, ou do Peter Brook ou do Bob Wilson.
Eram filas enormes e
chegávamos a permanecer várias horas nas mesmas.
Papo vai, papo vem,
troca de informações sobre peças e filmes acabavam nos conduzindo a conversas
mais pessoais, trocarmos telefones e nos tornar realmente amigos e não mais
apenas amigos de fila.
Foi assim com a
Angela, Ricardo, Mila, Carlos, Rosario, Fátima, Edgard, Totonha, Totonho, Tuna,
Vândala, Kimiko, Ed, Nelson, Sonia e Luiz Gonzaga.
Esses amigos foram um dos grandes presentes que recebi nas minhas andanças de espectador.
Luiz Gonzaga é exímio
crítico de cinema. Suas matérias sobre os filmes a que assiste são um compêndio
de conhecimento tanto humano como cinematográfico além de extremo bom gosto e
erudição ímpar. É uma pena que Luiz se limite a dividir esse tesouro apenas com
seus companheiros de WhatsApp, dos quais, felizmente, faço parte.
Luiz também é
admirador de teatro e costuma ler as matérias que publico em meu blog, vez ou
outra trocamos algumas palavras sobre o que cada um escreveu.
Reproduzo abaixo uma belíssima reflexão do caro amigo sobre duas matérias que escrevi em meu blog:
“Caríssimo Cetra:
Li com prazer e interesse sua crítica
de UM PICASSO, esse bem-vindo retorno de teatro presencial pelo amado e
respeitado grupo TAPA (Sonia e eu veremos em 3/9). Vimos a montagem portuguesa
de Tolentino no Sesc Ipiranga e, salvo traições da memória, as restrições que
você faz de frieza e excesso de racionalidade já se faziam presentes ali.
Entretanto, fiquei de fato com muita
vontade de escrever para você em função
de seu texto de 16/8. Acho que entendi e sobretudo senti inteiramente sua
"frustração" doída pelo encontro com as pessoas queridas, que
resultou numa experiência não gratificante devido aos protocolos da
pandemia. Daí o prevalecimento de uma
impressão de artificialidade, de formalidade. Senti na carne a tristeza que se
apossou de você, agravada pelo comportamento dos jovens que encontrou pelo
caminho. Seu percurso de volta para casa deve ter acentuado a sua (nossa)
solidão, a sua (nossa) carência de afeto. Tristes tempos, caro amigo!
Passei por experiência semelhante no
início da pandemia em 2020, quando dedos em riste alertavam para os perigos de
se sair de casa e eu não consegui ingresso (esgotados) para rever um filme de
Fellini na retrospectiva do Cinesesc e depois, voltando fracassado para casa,
passei em frente ao Belas Artes, bombeando de jovens despreocupados para curtir
um daqueles "noitões” madrugada adentro. Na semana seguinte os cinemas
fecharam e o ciclo Fellini foi cancelado.
Pois é: nossa vida foi e continua sendo
ROUBADA, mesmo que tanto quanto possível tentemos minimizar esses efeitos. Seria justo ganharmos uns anos a mais de vida
para compensar este duro e há muito longo período de confinamentos e
restrições.
Mas, embora bastante exauridos, só nos
resta não esmorecer e aguardar com crescente ansiedade a chegada de tempos melhores.
Ainda que minha mensagem tenha sido
motivada pelos sempre estimulantes artigos de seu blog, preferi lhe escrever
aqui no seu WhatsApp.
Imensas saudades de quando encontrava
você e tantos amigos queridos nos cinemas, nos teatros, partout enfim...
Abraço fraterno!
Luiz Gonzaga”
Dias atrás recebi esse presente e resolvi compartilhá-lo.
25/08/2021
Querido Cetra... sdd destas filas "fazedoras de amigos". E, como o mundo e uma noz, descobrimos amigos em comum. Qual não foi nossa surpresa qdo nos encontramos na Sala SP e te apresentei ao Zeca, q era seu amigo de longa data! Agradeço ao Cosmo por conspirar a meu favor! Bjbjbjbj
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