As tramas
tradicionais sempre apresentam um conflito inicial que aumenta à medida que a
curva dramática se desenvolve, atinge um ápice, até o mesmo ser resolvido
próximo ao final. Isso não é diferente em Um Picasso, texto do
dramaturgo norte americano Jeffrey Hatcher (1957-), escrito em 2005, no qual
uma agente nazista interroga Pablo Picasso sobre a autenticidade de obras do
pintor confiscadas pelo regime alemão as quais farão parte de uma exposição de
“arte degenerada” e depois serão destruídas.
Narrativa semelhante
tem a peça Diplomacia do francês Cyril Gély, que teve uma bem sucedida
versão virtual no início deste ano dirigida por Ricardo Grasson. Nas duas peças
os nazistas são os vilões, em uma querem arrasar Paris e na outra pretendem
destruir obras de arte; os argumentos de seus antagonistas (um diplomata sueco
em Diplomacia e Picasso em Um Picasso) fazem as tramas mudarem de
rumo.
Um Picasso ganha ótima montagem
do Grupo TAPA numa bem vinda volta do grupo ao palco do Teatro Aliança
Francesa. Dirigida com sobriedade por Eduardo Tolentino de Araújo, a peça
permite mais uma vez que se comprove os talentos de Clara Carvalho e Sergio
Mastropasqua.
Há uma estudada
frieza na montagem de Tolentino, fato que se reflete nas interpretações do
elenco. Estranha-se, por exemplo, o comedimento do personagem Picasso, homem
que na vida real era conhecido por seu temperamento expansivo e até explosivo.
A personagem interpretada por Clara Carvalho tem algumas nuances que não cabe
detalhar aqui, sob pena de estragar a fruição daqueles que vão assistir ao
espetáculo.
O cenário simples que
inclui um armário, cabides, cadeiras e uma escrivaninha permanece propositalmente
pouco iluminado durante toda a peça e há um jogo de luzes frias fluorescentes
ao fundo do palco que, para este espectador, poderia representar a frieza dos nazistas
focados na peça, no entanto esta ideia cai por terra quando na cena final, ao
som de uma caliente música espanhola, as luzes voltam a se acender. O
que elas representam?
Dentro da proposta do
encenador, Clara e Mastropasqua têm momentos excelentes em cena, mesmo se
submetendo a um gestual que às vezes soa artificial. Atriz e ator, excepcionais
que são, brindam o espectador com seus talentos.
Um Picasso é espetáculo
obrigatório pelo seu tema e pelo talento de todos os envolvidos, mas em meu
modo de ver, não lhe faria mal um pouco mais de paixão.
Um fato relevante é
que somos brindados com o programa impresso da peça na chegada ao teatro e isso
faz toda a diferença para quem tem nos programas material de reflexão e de
pesquisa.
Outro fato relevante
foi o encontro, depois de um longo período, com pessoas queridas na entrada e
na saída do teatro: Adriana Balsanelli, Renato Fernandes, Maurício Mellone,
Carlos Rahal, Edgar Olímpio de Souza, Bruno Perillo, Mônica Rossetto, André
Garolli, Lívia Carmona. Nestes tempos difíceis é muito importante celebrar este
fato, afinal o teatro é a arte do encontro!
Uma pena que, em função dos protocolos de segurança, Clara, Mastropasqua e Tolentino não puderam aparecer no saguão do teatro após o espetáculo. Sintam-se abraçados e muito aplaudidos!!
20/08/2021
Serviço:
Um Picasso
Teatro Aliança Francesa
Rua General Jardim 182 – Vila Buarque. (11) 3572-2379
Estreia dia 19 de agosto, quinta-feira, às 20h.
Ingressos: https://grupotapa.com.br (VENDAS
SOMENTE ONLINE)
Preços: R$40/R$20, quinta e sexta; R$60/R$30
sábado e domingo.
Temporada: De quinta a sábado, às 20h, e
domingo, às 17h. Até 26 de setembro.
Duração: 80 minutos. Classificação:
14 anos. Capacidade: 52 lugares + 4 PNE. Ar-condicionado.
Estacionamento conveniado na Rua Rego Freitas 285.
Cetra,
ResponderExcluiruma atração extra o reencontro dos amigos do Teatro!
Bela a sua visão de Um Picasso, como sempre. bjs
Maurício