Estupro é assunto
bastante delicado e difícil de ser tratado. Tatiana Salem Levy enfrentou o
desafio e escreveu o livro Vista Chinesa que retrata um fato real ocorrido
com uma jovem que corria no Alto da Boa Vista no Rio de Janeiro quando foi
abordada com um revólver na testa por um homem que a seguir a estuprou
violentamente em plena luz do dia, sob o céu azul e paradisíaco da Cidade
Maravilhosa.
Julia Lund e Luiz
Felipe Reis cientes da potência e da importância do tema tratado no livro
fizeram a adaptação teatral do mesmo, cuja encenação resultou em um dos
espetáculos mais vigorosos surgidos neste ano nos palcos paulistanos.
A encenação conjuga
harmoniosamente imagens filmadas, imagens produzidas em cena, cenário belíssimo
(Dina Salem Levy) reproduzindo o local da floresta onde se deu o estupro,
trilha sonora executada ao vivo (Pedro Sodré) que costura toda a ação,
iluminação precisa (Alessandro Boschini) que comenta os fatos narrados
preciosamente por Julia Lund, uma bela mulher e uma grande e versátil atriz.
Vejo Luiz Felipe Reis
como o maior responsável por essa bem sucedida empreitada porque ele assina a
direção e a concepção geral do espetáculo, além de operar a câmera ao vivo,
isso sem tirar a grande atração que é a interpretação de Julia Lund.
A extensa ficha
técnica aponta os responsáveis pela importante parte audiovisual da montagem.
Por duas vezes o
estupro é mencionado no escuro e com barulho ensurdecedor e em uma das cenas
mais fortes da peça a atriz representa o que teria sido esse ato violento, mas
o espetáculo vai além, mostrando as consequências do mesmo para a vítima e para
seus próximos. Em cena emblemática junto à polícia a vítima recusa-se a indicar
um suspeito por receio de injustamente condenar um inocente à prisão. Também é
na entrevista com a polícia que ela é quase forçada pelos policiais a dizer que
o agressor era negro, quando ela insiste em falar que ele era branco e de nariz
afilado.
Espetáculo de forte
impacto emocional tem sua gravidade amenizada na bela cena em que a mulher anteriormente
agredida e traumatizada tem um momento de sexo com muito amor com o namorado no
Mexico, atingindo um orgasmo inesquecível. Nesse momento epifânico ela dança
freneticamente sob luzes pela primeira vez intensamente coloridas. Para este
espectador ranzinza o espetáculo deveria terminar nesse momento quando artista
e plateia estão irmanados em um mesmo grau de energia, porém a peça se alonga
por mais quinze minutos, em verdadeiro anticlímax, não acrescentando nada de
novo à pungente história anteriormente apresentada.
Além de oportuno e
necessário, Vista é espetáculo visualmente bonito e criativo, além de revelar o
talento e a beleza de Julia Lund para os palcos paulistanos.
VISTA está em cartaz no SESC Avenida Paulista até 02 de julho De quinta a sábado às 20h e aos domingos às 18h. Sessão extra dia 28/06, quarta, às 20h.
NÃO DEIXE DE VER!
09/06/2023
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