Eu
não vim pra explicar. Vim pra confundir
(Chacrinha)
Eu
entendo a frase acima mais brechtiana do que muitas outras frases de Bertolt
Brecht, uma vez que quando se confunde o espectador pode-se atingir o tão almejado “efeito distanciamento” fazendo-o parar e refletir sobre o que está sendo
apresentado.
Acredito
que este seja o norte do trabalho de Alexandre Dal Farra tanto como autor como
diretor; seu teatro é muito mais de suscitar perguntas do que de oferecer
respostas. As respostas ficam por conta de cada espectador. Se isso já estava
presente em outras obras de Dal Farra, neste Verdade ele dá um passo
além.
Não
creio que seja por acaso que em certos momentos o público fique em dúvida se
quem está falando é alguém do exército ou seu antagonista que luta contra
ditaduras, torturas e governos conservadores de extrema direita. As regras do
jogo (ator com máscara ou sem máscaras) enunciadas por Alexandra Tavares no
início do espetáculo são desobedecidas várias vezes durante a apresentação
assim como o uso do uniforme do exército.
Também não acredito
que não seja proposital o general Mourão lembrar o nosso atual mandatário em
sua fala só de cuecas encima de um tablado.
Esse jogo quase
dialético é para mim o grande achado do espetáculo.
Revendo a peça em
melhores condições acústicas do que no porão do Centro Cultural São Paulo
onde aconteceu a primeira temporada em 2022 e após ter lido o texto, pude
melhor entender este trabalho do grupo Tablado SP (que já foi “de
Arruar”). Poucas vezes tem-se visto em nossos palcos retrato tão impactante das
Forças Armadas brasileiras e alerta importante de como elas podem agir em
silêncio e de maneira dissimulada para reestabelecer governos de extrema
direita no país.
É preciso estar
atento e forte, parece alertar o excelente elenco da peça: André Capuano,
Alexandra Tavares, Clayton Mariano, Gabriela Elias e Nilcéia Vicente
interpretam vários generais, Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante e também são os
narradores que vão pontuando as datas em que se passam as ações. Trabalhos de
fôlego merecedores de todos os nossos aplausos.
E por último, mas não menos importante: creio estar claro que a comparação de Dal Farra com Chacrinha é um elogio!
VERDADE está em cartaz no TUSP dentro do projeto exemplarmente denominado Teatro pós-Trauma. Temporada até 18/06 de quinta a sábado às 20h e aos domingos às 18h.
04/06/2023
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