AWAITÉ PAWANA, algo como BALEIA À VISTA, é o
brado dado dentro do navio baleeiro, pelo vigia nativo ao avistar a caça. Em
questão de momentos a beleza e a placidez da paisagem se transformará em um mar
de sangue e de barbárie, que só o homem é capaz de realizar.
Essa
discrepância entre a beleza da natureza e as ações do homem para destruí-la, em
função de sua ganância é o tema da única peça de teatro escrita por Jean-Marie
Gustave LeClézio (1940 -), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008.
Para
contar a história da sangrenta caça às baleias em uma idílica laguna onde elas
se dirigiam para parir suas crias, LeClézio coloca em cena o capitão Charles
Melville Scammon e um jovem marinheiro, cada um deles com duas narrativas, sem
se cruzarem no palco.
O texto é belíssimo
tanto nas narrativas singelas sobre a natureza como naquelas cruéis como a
morte de Aracelly, índia que o jovem conheceu e amou e, principalmente, na
descrição das caçadas sangrentas às baleias-cinzentas.
A
crueza da caça às baleias serve como metáfora para a violência do mundo atual
onde guerras e a revolta da natureza destroem milhares de seres humanos. Não é à
toa que LeClezio coloca na boca do capitão uma frase sobre a violenta destruição
de mães e de seus filhos recém nascidos nos dias de hoje.
De
posse desse emblemático texto, José Roberto Jardim, com sua costumeira
elegância, realizou o espetáculo ora em cartaz no reformado Teatro Àgora, que
reabre suas portas depois de quatro anos. A pandemia e as obras do metrô não
arrefeceram a garra de Sylvia Moreira e Celso Frateschi, proprietários do
local.
Celso
Frateschi, com seu conhecido talento, encarrega-se das falas do capitão,
enquanto Rodolfo Valente, uma grata revelação, narra as vivências do jovem
marinheiro.
Tudo
funciona nesse espetáculo que beira a perfeição:
- Cenário formado por
um círculo com chão coberto de pedregulhos brancos e quatro véus que vão do
teto até o chão e que são incrivelmente iluminados por tons que comentam as
narrativas. Essa beleza é creditada a Sylvia Moreira (cenário) e Wagner Freire
(iluminação).
- Trilha sonora de
Piero Damiani reproduzindo sons das baleias, ruídos marítimos e suaves melodias.
- Interpretações
primorosas de Frateschi e Rodolfo
- E a mão do maestro
José Roberto Jardim regendo toda essa beleza, apesar da crueza do relato.
No seu pequeno
formato, Pawana é um dos grandes espetáculos do ano e merece toda a atenção e
os aplausos da crítica e do público.
Ah! Leve o lenço,
pois vi muita gente em lágrimas ao final do espetáculo!
PAWANA está em cartaz
no Teatro Ágora até 11 de dezembro com sessões às sextas e segundas às 20h, aos
sábados às 21h e aos domingos às 19h.
ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!
28/11/2023
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