domingo, 2 de março de 2025

OS IRMÃOS KARAMÁZOV


     Em matéria publicada na “Folha de S. Paulo” em 27/02/2025, o jornalista comenta que se trata da “primeira adaptação teatral no país” do romance de Dostoievski, talvez por desconhecer a memorável montagem de 2014 dirigida por Ruy Cortez a partir da adaptação realizada por Luís Alberto de Abreu e Calixto de Inhamuns.

     Sem querer comparar, mas comparando, a primeira montagem leva muitas vantagens em relação a esta estreada a pouco no SESC Pompeia, principalmente no que se refere à adaptação teatral de obra tão gigantesca, complexa e profunda. Recortes são necessários e aqui na tentativa de abarcar o máximo possível o resultado é superficial. Trechos essenciais da obra como “O Grande Inquisidor” e o julgamento pela morte do pai Fiódor resultam quase como cenas de passagem.

     É difícil escrever sobre a montagem na ausência de um programa, quer seja impresso, quer seja disponível via QRcode, ou mesmo um release. Sem a ficha técnica fica difícil relacionar intérprete com personagem.

     Trata-se de um espetáculo histérico (opção da direção de Caio Blat e Marina Vianna) com o elenco gritando e correndo o tempo todo, desde a primeira cena com uma incômoda longa fala de Fiódor, o pai.

     Em espetáculo tão barulhento os poucos e raros momentos de silêncio soam como um bálsamo para o espectador.

     Do elenco irregular cabe destacar o belo trabalho de Pedro Henrique Muller que representa Smierdiakóv e Catierina, em duas composições surpreendentes. Diga-se de passagem, que é o único que não grita em cena.

     A bela interpretação de Luisa Arraes como Dmitri fica comprometida por gritar e atuar “over” o tempo todo e o vigor de Caio Blat (Ivan) fica prejudicado principalmente na cena do grande inquisidor devido à superficialidade com que o assunto foi tratado na adaptação, realizada por ele e Manoel Candeias

     O doce e tímido Aliocha tem interpretação também tímida de Nina Tomsic.

     A personagem tão forte de Groshenka é prejudicada pela interpretação histérica e gritada de Sol Miranda, assim como a de Fiódor (Babu Santana).

     O teatro do SESC Pompeia não é tão grande e acredito que a peça esteja micro fonada, então não posso deixar de questionar: POR QUE GRITAR TANTO? Ouvi essa pergunta vinda de muitos dos espectadores na saída do teatro.

     Os embates filosóficos entre os irmãos Dmitri (hedonista), Ivan (intelectual, ateu) e Aliocha (místico e puro) aparecem aqui e acolá, quando na verdade são a razão de ser da grandiosa obra de Dostoievski.

     Cenário e figurinos brancos dão toque de delicadeza ao espetáculo até o momento em que eles são manchados de sangue.

     Boa participação da dupla de músicos (Arthur Braganti e Thiago Rebello) e de duas leitoras de libras que se incorporam à ação.

     Mesmo com esse senões treita-se de um espetáculo digno que merece ser assistido.

     OS IRMÃOS KARAMÁZOV está em cartaz no SESC Pompeia até 30/03 com sessões de quinta a sábado às 20h e domingos às 17h.

       02/03/2025