A década de 1970 foi palco das sangrentas ditaduras latino americanas. Chile, Argentina e Brasil eram alguns dos países dominados pelos militares. Nessa época surgiu também a moda da latinidad, uma explosão da música latino-americana de protesto. Os discos chegavam ao Brasil pelas mãos de amigos e passavam de mão em mão clandestinamente, um deles foi o LP de Mercedes Sosa Homenaje a Violeta Parra(1971) . Quem era aquela compositora falecida em 1967 cujas letras das músicas eram tão próximas do momento negro que a América Latina estava vivendo? A pesquisa foi longa e aos poucos fui me apaixonando pela vida e pela obra dessa verdadeira artesã, no melhor sentido que essa palavra possa ter. Na última quinta feira chuvosa fui assistir ao filme de Andrés Wood Violeta Foi para o Céu que conta a sofrida e curta existência da “hoje” popular artista.
O início do filme tem uma narrativa excessivamente fragmentada, mas depois as peças vão se encaixando e é comovente ao descrever a trajetória de La Parra. O grande trunfo do filme é a interpretação de Francisca Gavillán, muito bem caracterizada, tendo inclusive os cabelos mal cuidados característicos da enigmática Violeta. As músicas são cantadas pela própria atriz que tem um tom de voz muito parecido com a da compositora. A última meia hora é a parte mais bela do filme; passa-se na Carpa de La Reina, tenda que a artista criou nos arredores de Santiago para difundir a música folclórica chilena. Lá é mostrada sua falência emocional em função de frustrações emocionais (era apaixonada por um músico suíço mais jovem que ela) e profissionais (pouco público na carpa). Quando se suicidou, com um tiro,em 05 de setembro de 1967, estava só e desesperada como era mais ou menos seu costume e parte do seu ofício humano. Esse pungente e último momento de Violeta Parra é mostrado de forma emocionante e vale o filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário