EU NÃO DAVA PRAQUILO
Myrian Muniz (1931- 2004) - Foto de Vânia Toledo
Não resta a menor dúvida que a mulher Myrian Muniz é uma
grande personagem. Sua forte personalidade e seu modo de falar e de gesticular,
serviram de inspiração para a cartomante Mãe Jatira criada por Marcelo Médici
em Cada Um Com Seus Pobrema e agora é
recriada magnificamente por Cassio Scapin em Eu Não Dava Praquilo.
Usando uma estola preta e um cigarro na mão, Cassio
interpreta a grande atriz com tal intensidade que em certos momentos tem-se a
impressão que é ela que está falando com o público no palco do Centro Cultural
Banco do Brasil.
O texto do espetáculo é calcado nas declarações dadas por
Myrian ao longo de sua carreira e é apresentado de maneira fragmentada sem
muita costura entre as cenas. Essa costura só pode ser feita por quem conhece a
trajetória dessa grande atriz, diretora educadora, restando para o resto do
público a fruição da interpretação de Cassio Scapin. O que não é pouco, mas no
meu modo de ver, os autores (Cassio Scapin e Cássio Junqueira) poderiam ter usado
outras situações presentes nas falas de Myrian deixando a narrativa mais fluida
e mais didática. A peça é muito curta e tem gosto de “quero mais”. Só como
exemplo, pouca coisa foi aproveitada da última participação pública de Myrian
que foi o depoimento no Teatro de Arena em 20 de outubro de 2004: emocionada e
bastante fragilizada fisicamente, Myrian ajoelhou-se e beijou aquele chão,
testemunha de grandes momentos de sua carreira. Dois meses depois Myrian
partia, deixando em cada um de nós um pouco de sua irreverência e coragem. A
relação da diretora com Elis Regina em Falso
Brilhante também poderia ter sido mais explorada, pois como é do
conhecimento geral, essa relação foi bastante tumultuada e revela um pouco da
faceta dessas duas mulheres.
A direção de Elias Andreato é bastante discreta e focada
na interpretação de Cassio. A encenação é embelezada pela iluminação de Wagner
Freire.
Espetáculo delicado que é uma homenagem não só a uma
grande atriz, mas também ao teatro paulistano do qual ela fez parte e cuja história
ela ajudou a construir. Interpretação iluminada de Cassio Scapin, um
forte candidato aos prêmios de melhor ator de 2013.
Eu Não Dava
Praquilo fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil até 23 de
setembro, aos sábados e segundas às 20h e aos domingos às 19h
Eu não conheci Myrian Muniz mas fiquei muito tocada ao ver o espetáculo de atuação, luz e direção de "Eu Não Dava Praquilo". Só discordo do meu amigo no que diz respeito à relação de Myrian e Elis, pois creio que em uma homenagem não é necessário por as mazelas em cena, afinal pelo que sei as duas eram explosivamente geniosas. Esta peça é uma bela homenagem a uma grande mulher do teatro, que não teve em vida o devido reconhecimento.
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