Oswald de Andrade já
dizia que o teatro brasileiro é um enjeitado; daquela época para os dias de
hoje a divulgação e a crítica de espetáculos teatrais, após passar por um
período onde renomados críticos realizavam verdadeiros ensaios sobre as
encenações (anos 1950/1960/1970), pioraram bastante: espaços para notícias
teatrais na nossa mídia tornaram-se exíguos e as críticas, quando existem, são
superficiais e não chegam a uma lauda. Este fato refere-se aos espetáculos
apresentados nos espaços tradicionais. O que dizer daqueles feitos na rua e/ou
na periferia da cidade? São absolutamente ignorados! Nem os guias específicos
de teatro fazem qualquer referência a esses tipos de teatro e a divulgação dos
mesmos limita-se às postagens que os próprios grupos fazem por meio das redes
sociais.
Feito o desabafo, vamos ao que interessa: o espetáculo Ópera do Trabalho do grupo Buraco D’Oráculo, apresentado na última
semana na Praça da República. Espetáculo, segundo o programa,
épico-narrativo-musical do grupo que tem um forte compromisso com questões
sociais e políticas. A peça levanta questões sobre a precariedade em que vive o
trabalhador brasileiro, tais como: falta de dinheiro para as necessidades básicas,
transporte público caro e ineficiente, setor de saúde ineficaz, sujeição a uma
mídia mentirosa e manipuladora. Não dá (e nem pode) dar respostas, mas levanta
questões de maneira clara e lúdica no sentir de fazer o espectador a que se
destina o espetáculo (o passante, o morador de rua) refletir sobre a realidade
em que vive e quem sabe pensar e atuar em possíveis mudanças. Tudo isso no
melhor estilo das lições do “pobre” Bertolt Brecht: o conteúdo é representado
na forma de um musical bem humorado e de fácil comunicação.
Nesta apresentação (08/08/2013), um provável morador de rua
que assistia ao espetáculo passou a participar da cena e foi maravilhosamente
incorporado pelo elenco, constituindo-se numa atração à parte e numa verdadeira
“participação especial”. Nas duas fotos abaixo, ele aparece entre os atores,
com camisa vermelha e boné. Eis a essência do teatro com toda a sua maravilhosa
característica de efemeridade: da maneira como ocorreu, isso nunca mais vai
acontecer. Quem viu, viu!
O texto é uma criação coletiva e está muito bem alinhavado.
A direção cênica de Adailton Alves privilegia a comunicação e dá liberdade para
o trabalho espontâneo de todo o ótimo elenco. Destaque também para a excelente
parte musical do espetáculo. Canções de vários autores do grupo com direção
musical de Celso Nascimento.
O programa da peça é uma carteira de trabalho e contém, além da ficha técnica, as letras de todas as canções apresentadas.
Nos próximos dias 15 e 16 de agosto (quinta e sexta) o grupo
volta a se apresentar às 19h na Praça da República e depois volta a percorrer
os bairros da periferia da cidade.
LONGA VIDA AO BURACO D’ORÁCULO.
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