terça-feira, 11 de agosto de 2015

A PRIMEIRA PARTNER DO PAULO.


(Paulinho na época em que se passa esta história)

        Mariza era a caçula de uma família de três irmãs. De temperamento forte, falava muito alto, dando um tom dramático a tudo que dizia, fato que lhe valeu os apelidos de Anna Magnani e Sarah Bernhardt dados pela mana mais velha.
        Originária da cidade de Duartina a família mudou-se para Bauru no início da década de 1940 quando a menina tinha dez anos. Foi fazer o primário no Grupo Escolar Rodrigues de Abreu.
        A coordenadora da escola, Dona Jacy, resolveu realizar uma peça de teatro para a comemoração do fim do ano e logo pensou em Mariza para o papel principal, haja vista seu modo expansivo de ser. A peça chamava-se Prato de Porcelana e tinha quatro personagens: a mãe (papel de Mariza), o pai, a filha e a empregada. A ação girava em torno das reclamações que a zangada e falastrona mãe fazia ao circunspecto e conciliador pai pelo fato da empregada ter quebrado alguns objetos da casa, inclusive o prato que dá título à peça. Para o papel do pai Dona Jacy escolheu o seu sobrinho Paulinho que, segundo Mariza, desde garoto já se revelava um ator de primeira linha. Magrelo, ele atuava sentado numa poltrona lendo um jornal e simulando que fumava um cachimbo. A filha e a empregada tinham papéis secundários sendo que Mariza e Paulo se encarregavam da maioria dos diálogos.              
        Mariza lembra até hoje de uma de suas falas: Ontem quebrou a fruteira, hoje a linda saladeira e um prato de porcelana. Criada assim nem de graça. Um dia sequer se passa que não dê um prejuízo.
       A ação se passava durante o café da manhã e Mariza usava um penhoar que sua mãe costurou às pressas nas vésperas da apresentação.
        A peça foi apresentada no Cine Teatro Bauru e foi aplaudidíssima pelos entusiasmados familiares que estavam na plateia. Mariza recorda-se que os quatro atores mirins se deram as mãos e numa reverência típica agradeceram os aplausos. Grande dia na vida daquela menina que ainda hoje, mais de 70 anos passados, o recorda com muita emoção.
        Após esse período nunca mais Mariza viu Paulo e anos mais tarde morando em São Paulo soube que ele havia seguido a carreira artística (teatro e cinema).
        No ano de 1969, a convite de sua cunhada, foi assistir a Fala Baixo, Senão Eu Grito no Teatro Aliança Francesa. A peça de estreia de Leilah Assumpção tinha como chamariz a atriz Marília Pêra. Mariza sentiu uma grande emoção ao reconhecer no palco ao lado de Marília, o Paulo de sua infância, seu partner em O Prato de Porcelana. Sim, era ele: Paulo Villaça!
 
 
        Quando o espetáculo terminou Mariza avistou Paulo no saguão do teatro conversando com um senhor; muniu-se de coragem e foi se aproximando para cumprimentá-lo e para falar do Prato de Porcelana, mas um grupo de pessoas chegou antes do que ela, fato que a intimidou fazendo com que se afastasse desistindo do contato. Até hoje ela se penaliza por não ter concretizado esse encontro.
        Só ouviu falar de Paulo Villaça novamente em 1992 quando soube de sua morte.
 
Paulo Villaça (1933-1992)

        Carinhosamente apelidada por mim de Dona Cebolinha uma vez que foge, como o diabo foge da cruz, de todo e qualquer prato que tenha vestígios da erva bulbosa da família das liliáceas,  hoje Dona Mariza é uma jovial, simpática e ainda bastante extrovertida senhora de 84 anos que adora ópera, seus netos, seus quatro filhos homens e também se entusiasma contando histórias lindas como esta.

 

07/08/2015

         

2 comentários:

  1. Que história interessante. Agora ela já está registrada, dona Mariza vai ficar feliz ao saber. Nadya Milano

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