sexta-feira, 28 de agosto de 2015

FESTIVAL KLEBER MONTANHEIRO


 
        Na semana passada assisti a três espetáculos dirigidos por Kleber Montanheiro em cartaz na cidade: Navio Fantasma, Os Dois Cavalheiros de Verona e Sobre Cartas & Desejos Infinitos. Para completar o verdadeiro festival só faltou ver o infantil A Lenda do Cigano e o Gigante.
        Após a vitoriosa e bem sucedida temporada de A Ópera do Malandro com a sua Cia. da Revista, Kleber assina estas direções que têm muito em comum, principalmente no extremo cuidado com cenários (quase sempre simétricos), figurinos (todos assinados pelo encenador, com exceção de Navio Fantasma de autoria de Deborah Corrêa). Há também atenção muito grande com a movimentação dos atores em torno da cenografia (todas elas de Kleber) o que resulta nos três casos em belíssimo efeito estético. O resultado final como espetáculo é distinto para cada um deles.

        Navio Fantasma é, segundo a produção, espetáculo dirigido para o público jovem, mas a dramaturgia de Paulo Rogério Lopes para a lenda do Holandês Voador não vai facilitar a vida para quem está começando a frequentar teatro: narrativa fragmentada sem necessidade (sei que o teatro pós-moderno gosta desta forma, mas creio que não seja o caso). Muito texto e pouca ação podem cansar e desviar a atenção dessa faixa de público. Os cinco atores revezam-se em vários papéis e há pouca diferenciação na troca de personagens o que também pode dificultar o entendimento. A encenação toda em tons claros é muito bonita e o elenco masculino é bastante bom. A produção do espetáculo é impecável.  A trilha sonora original de Rafael Gama Dantas, apesar da grande influência daquelas dos filmes épicos norte americanos, é bonita e funciona.

        Os Dois Cavalheiros de Verona (1594) é uma das primeiras peças de Shakespeare (1564-1616) e ressente-se disso na trama bastante frágil e no desfecho inverossímil (como perdoar Proteu tão rapidamente?), mas a encenação de Montanheiro dando um tom de commedia dell’arte às interpretações no gestual, nas entonações e nas máscaras torna o todo bastante agradável de ver, além do apuro na cenografia e na trilha executada ao vivo.  Destaque para a atriz que interpreta a ama de Julia, para o ator que interpreta Proteu e, principalmente, para o ator Caio Merseguel (só soube seu nome porque perguntei para a produção quando a peça terminou) que faz um gaiato Speed, criado de Valentino: com movimentação corporal e facial perfeitas rouba todas as cenas em que aparece não deixando o espectador tirar os olhos dele. A falta de indicação de “quem interpreta quem” cada vez mais comum nos programas presta um desserviço não só ao público como também aos atores.

        Sobre Cartas & Desejos Infinitos é ao meu modo de ver a mais bem sucedida das três encenações. Apresentada no acolhedor Armazém Cultural a peça de Ana Luiza Garcia inspirada na obra As Vantagens de Ser Invisível (livro e filme de 2012) de Stephen Chbosky fala sobre problemas típicos dos jovens, dirige-se a eles e também é interpretada por eles. A peça tem alguns desequilíbrios nas interpretações, mas revela o talento de Lucas Lentini, intenso nas emoções da personagem Rafa. Mais uma vez constata-se o cuidado do encenador com a parte visual (cenário figurinos e iluminação).

        Pela beleza visual e pelas revelações de Caio Merseguel e Lucas Lentini valem as viagens até esses três trabalhos do incansável e talentoso Kleber Montanheiro.

 

        NAVIO FANTASMA – Teatro João Caetano – Quartas 15h e 20h/Sábados e domingos 16h.

        OS DOIS CAVALHEIROS DE VERONA – Teatro João Caetano – De quinta a sábado 21h/ Domingos 19h.

        SOBRE CARTAS & DESEJOS INFINITOS – Armazém Cultural – Sábados e domingos 20h.
 
28/08/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário