segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A MULHER QUE DIGITA


        A Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP completa sua 3ª edição com a apresentação de A Mulher Que Digita, ora em cartaz.
        Sucesso de público e de critica em suas duas primeiras edições (Mantenha Fora do Alcance do Bebê de Silvia Gomez/2015 e Os Arqueólogos de Vinicius Calderoni/2016 foram merecidamente aplaudidas e premiadas e os quatro outros títulos também tinham ótimo nível), o mesmo não aconteceu em 2017, onde uma direção equivocada prejudicou o bom texto de Boi Ronceiro e ANTIdeus ficou apenas na excelente intenção, aquela de denunciar o fanatismo de religiões monoteístas.
        Eis que a redenção da III Mostra chega com A Mulher Que Digita instigante texto de Carla Kinzo que coloca duas mulheres em cena, confinadas em um apartamento, sendo que lá fora reina a violência e há toque de recolher em determinado horário. Em clima de suspense uma dessas mulheres dita à outra uma terrível história sobre o assassinato de um jovem. Aos poucos a mulher que digita vai se envolvendo com a narrativa e a partir daí ficção, realidade e os papeis de cada personagem vão se entrelaçando em inteligente jogo de metalinguagem aonde o crescente ruído vindo da rua atinge níveis insuportáveis até se calar aos exatos 71 minutos da ação. A inclusão da canção Strange Fruits de e com Billie Holyday encaixa-se como uma luva ao tema tratado na peça.
        Louve-se a reação do público na noite da estreia que soube entender o código teatral imposto pela direção e aplaudiu no momento certo. É entendível, pela característica da encenação, que as atrizes não voltem para os agradecimentos finais, mas a devolução por meio dos aplausos da energia fornecida por elas durante a ação  fica retida na garganta do espectador.
        De acordo com a proposta da Mostra que é revelar bons textos dramatúrgicos, a encenadora Isabel Teixeira deu prioridade para o texto fazendo-o ecoar da melhor maneira nas vozes das atrizes. O cenário concebido pelo grupo e por Michel Castro é sóbrio e eficaz e o ambiente tem iluminação de Aline Santini que se aproveita muito bem das sombras e das penumbras para fortalecer a ação dramática.
        Sabrina Greve usa sua figura esguia para exteriorizar a segurança inicial da mulher que dita e que detém o conhecimento da história. No decorrer da ação ela vai perdendo essa segurança nas interlocuções com a mulher que digita vivida por Andrea Tedesco; esta demonstra um misto de perplexidade e curiosidade com o que vai ouvindo e suas interrupções na digitação têm saudável toque de humor que amenizam a tensão provocada pelo tema tratado. As interpretações confirmam o talento dessas duas jovens atrizes do nosso teatro.
        Segundo Kil Abreu, curador do projeto, a edição de 2018 recebeu mais de 300 inscrições o que consolida o sucesso e a importância desse evento. Longa vida à Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP.
         A MULHER QUE DIGITA está em cartaz no Centro Cultural São Paulo às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 20h até 27/08.


07/08/2017

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