Tempo
de delicadeza. Tempo de singeleza. Tempo de beleza. Tempo, tempo, tempo...
1900,
ano em que Tchekhov escreve As Três Irmãs.
Olga Knipper e Tchekhov em 1901, ano da estreia de "As Três Irmãs" em Moscou.
1972,
ano em que o Grupo Oficina monta a peça por apenas alguns dias. (tive o
privilégio de assistir a essa montagem, que tinha ar bastante melancólico e
triste).
1995,
ano em que Zé Celso Martinez Corrêa dá histórica entrevista para um grupo de
estudantes de teatro sobre a montagem de 1972.
2017,
ano em que André Guerreiro Lopes (um dos entrevistadores de 1995), reúne tudo
isso em uma delicada viagem pelo tempo e que resulta em dos mais belos
espetáculos presentes em nossa cena: TCHEKHOV É UM COGUMELO.
Em
2010 quando assisti a Ilhada Em Mim
escrevi: “Eu queria ter veia
poética para poder traduzir com palavras adequadas todas as sensações que tive
ao assistir Ilhada em Mim. A encenação de André Guerreiro Lopes é absolutamente
sensitiva e fica difícil escrever sobre ela de maneira racional.” A mesma
sensação eu tive ao ver O Livro da Desordem e da Infinita Coerência (anterior
a Ilhada Em Mim, mas que vi
posteriormente) e eis que ela novamente se repete com este belíssimo Tchekhov É Um Cogumelo! André tem o dom
de transformar poesia em ato cênico.
O espetáculo, bastante
complexo, coloca em cena literalmente o que se passa no cérebro do encenador
mixando de forma extremamente harmoniosa os tempos citados acima. Um ato de “esculpir o tempo” como informa o belo e
informativo programa.
A mais que lúcida entrevista
de Zé Celso serve como guia para o espetáculo sendo intercalada com cenas de As Três Irmãs onde Olga, Irina e Masha
são representadas com muita sensibilidade por Helena Ignez, Djin Sganzerla e
Michele Matalon e as canções são lindamente cantadas por Roberto Moura. Samuel
Kavalerski e Fernando Rocha completam o harmonioso elenco. A iluminação de Marcelo Lazzaratto e a trilha
sonora de Gregory Silvar embalam suavemente toda a encenação e não contente em
esculpir o tempo, Guerreiro Lopes esculpe também o lugar nos trazendo da
longínqua Rússia do início do século 20 para as ruas de São Paulo de 2017 por
meio da surpreendente participação do Grupo
Embatucadores. É muita emoção para um espetáculo só!
A peça também comemora os dez anos do Estúdio Lusco-fusco, a companhia teatral criada por Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes.
A peça também comemora os dez anos do Estúdio Lusco-fusco, a companhia teatral criada por Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes.
Cada um à sua maneira, Tchekhov É Um Cogumelo e Boca de Ouro (direção de Gabriel Villela, em cartaz no Tucarena) são, na
forma, os dois mais belos espetáculos em cartaz na cidade, além, obviamente, da
qualidade de seus conteúdos.
TCHEKHOV É UM COGUMELO está
em cartaz no Teatro Anchieta até 08/10/2017 às sextas e sábados às 21h e aos
domingos às 18h.
IMPERDÍVEL!!
27/08/2017
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