A
primeira alegria foi conhecer a sede de A
Próxima Companhia, mais um grupo jovem empreendedor e apaixonado pelo
teatro que com a cara e a coragem cria seu próprio espaço. O teatro fica na Rua
Barão de Campinas, 529 na Barra Funda, bastante próximo à Estação Santa Cecília
do metrô. Sala de espera aconchegante dotada de bar, sala de espetáculos
confortável e versátil e ainda uma área bastante grande para armazenagem de
cenários e figurinos formam o espaço administrado por Caio Franzolin, Caio
Marinho, Gabriel Kuster, Juliana Oliveira e Paula Praia, gente muito jovem nas
mãos de quem está o futuro do teatro paulistano.
A
segunda alegria veio com o espetáculo solo de Caio Franzolin Enquanto Chão, criado a partir das
pesquisas acadêmicas dele com Carminda Mendes André em Tocantins e em Minas
Gerais. O objetivo da pesquisa era verificar o quanto a intervenção urbana
estava ameaçando a cultura popular e os locais escolhidos foram Vila Canela/TO
(inundação da Vila para construção de uma hidroelétrica) e em Patrimônio/MG
(especulação imobiliária – surgimento de altos edifícios). O que poderia
resultar em algo árido foi transformado em sólida e poética dramaturgia
assinada por Solange Dias e posta em cena com muita criatividade por Rafaela
Carneiro com interpretação deliciosa de Caio Frazolin.
Narrando
parte da trama e interpretando as personagens com que teve contato em suas
andanças pelos locais pesquisados o ator se mostra em plena maturidade
artística, algo notável para alguém tão jovem. O público interage com o ator de
maneira natural e divertida desde a montagem do cenário até um gostoso forró,
com direito a café, bolo, licor de jenipapo e até tubaína. Durante o forró tive
a honra de fazer um bom arrasta pé com o ator Edgar Castro.
Nesse
clima festivo, Caio Frazolin mostra aos espectadores do que é capaz a força do
dito “progresso” que literalmente com escavadeiras vai demolindo culturas
centenárias transmitidas oralmente de pai para filho. Assim, se divertindo,
refletimos sobre esses assuntos e essa reflexão pode ajudar na mudança de rumo
deste país tão sem memória.
O
espetáculo, por seu tema, dialoga com outras excelentes encenações que já
passaram pelos palcos da cidade: Dezuó
de Rudinei Borges, Hotel Mariana de
Munir Pedrosa (de volta ao cartaz, no Sesc Vila Mariana) e Os Atingidos de José Fernando Peixoto Azevedo. Todos eles, à sua
maneira, denunciam os desmandos a que os brasileiros são/estão submetidos.
ENQUANTO
CHÃO fica em cartaz só até o próximo fim de semana (21/01) com sessões sexta
(21h) e sábado e domingo (19h) no Espaço Cultural A Próxima Companhia.
15/01/2018
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