terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A DRAMATURGIA BRASILEIRA NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2017

Refluxo

        Crise, corte de verbas para a cultura, editais ameaçados de não se realizarem. Tudo isso não foi suficiente para o teatro paulistano esmorecer. Cerca de 1000 espetáculos passaram pelos palcos da cidade em 2017 e 633 deles foram de autores brasileiros. Essa informação é extraída dos guias de teatro de São Paulo e não inclui teatro infantil, espetáculos de comédia stand up e trabalhos realizados na periferia da cidade que não constam dos guias consultados. Os títulos apresentados podem ser tanto estreias e reestreias como espetáculos vindos da temporada do ano anterior.
        O objeto de análise da presente matéria é dramaturgia brasileira. Segue abaixo quadro comparativo dos títulos brasileiros apresentados em São Paulo nos últimos sete anos:

2011 – 505
2012 – 493
2013 – 578
2014 – 583
2015 – 495
2016 – 611
2017 – 633

        Quantitativamente os números estão longe de demonstrar uma situação crítica.

Suassuna - O Auto do Reino do Sol

        De maneira geral, com exceção de Nelson Rodrigues e Plínio Marcos que são constantemente reencenados, os autores contemporâneos dominam a cena. Obras importantes de autores como Jorge Andrade, Carlos Alberto Soffredini, Oduvaldo Vianna Filho e José Vicente raramente aparecem. Dos mais antigos, eventualmente surgem apenas os nomes de Martins Pena e Artur Azevedo e é só. A gloriosa exceção do ano foi a remontagem de O Rei da Vela de Oswald de Andrade pelo Grupo Oficina, oitenta anos após ter sido escrita e cinquenta após ter sido montada.

O Rei da Vela

        O ano de 2017 não foge à regra. O autor mais montado foi Rodolfo García Vázquez com seis títulos, cinco deles em parceria com Ivam Cabral (esses números incluem a trilogia Pessoas). Mário Bortolotto e Nelson Rodrigues também comparecem com cinco peças.
        Autores com quatro espetáculos: Michele Ferreira, Plínio Marcos, Regiana Antonini, Ricardo Leitte e Vinicius Calderoni.
        O expressivo número de 18 autores apresentou três espetáculos no ano e com dois trabalhos foram 36 autores.
        Excetuando-se as criações coletivas (62), os espetáculos em processo colaborativo (oito) e outros tipos de dramaturgia (nove), 491 autores tiveram apenas um título apresentado. Muitos nomes desconhecidos aparecem nesta lista e lamentavelmente é muito difícil que eles venham a comparecer no futuro.
        Fato digno de nota é que o ano teve média de 53 novos títulos por mês, mas o total em cartaz se manteve constante (aproximadamente 160), assim se pode concluir que em média 53 títulos deixaram o cartaz a cada mês, o que significa alta rotatividade e pouco tempo de permanência em cartaz.
        Foram 105 monólogos, 118 peças com dois atores e 410 espetáculos com elenco de três ou mais atores.

Tchekhov É Um Cogumelo

        399 dramas, 137 comédias, 51 musicais e 46 em outros gêneros. Apesar da maior concentração em dramas, são as comédias que apresentam maior longevidade em cartaz. Os musicais continuam mostrando bastante fôlego, o que - apesar de não fazer parte desta análise - parece não acontecer com as comédias stand up.
        Dificilmente a ficha técnica explicita se determinado espetáculo foi concebido em processo colaborativo. O critério aqui adotado foi: se aparece apenas o(s) nome(s) do(s) autor(es) a classificação é “Dramaturgia de Autor”; caso apareça o nome do grupo na autoria a classificação é “Criação Coletiva”; caso apareça o nome do grupo e um autor a classificação é “Processo Colaborativo”. Os outros títulos podem ser “Adaptação” ou não se encaixar em nenhuma dessas classificações.

Dramaturgia de autor: 535
Criação Coletiva: 62
Processo Colaborativo: 8
Adaptação: 19
Outros: 9
       
        136 espetáculos levam o nome de um grupo e 497 não o fazem.
        Em 334 casos o autor exerce outra função no espetáculo (em geral diretor e/ou ator), restringindo-se somente à dramaturgia em 299 títulos.

Siete Grande Hotel

        Títulos expressivos e de alto nível como Refluxo (Ângela Ribeiro), Pagliacci (Luís Alberto de Abreu), Jacy (Pablo Capristano e Iracema Macedo), Gritos (Arthur Ribeiro e André Curti), Marte, Você Está Aí? (Silvia Gomez), Hotel Mariana (Munir Pedrosa), Suassuna – O Auto do Reino do Sol (Bráulio Tavares), Siete Grande Hotel (Rudifran Pompeu), Tchekhov É Um Cogumelo (André Guerreiro Lopes) mostraram que qualidade também esteve presente nesse 2017 quantitativamente bastante rico.

        VIVA O TEATRO BRASILEIRO!

02/01/2018
               



5 comentários:

  1. Só um engenheiro com aquelas planilhas invejáveis para fazer um trabalho desses. Parabéns, Cetra!

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  2. Genial essa sua análise e mostra a seriedade e a paixão pela memória da nossa cultura, teu trabalho é um imenso serviço ao teatro brasileiro...

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  3. Genial essa sua análise e mostra a seriedade e a paixão pela memória da nossa cultura, teu trabalho é um imenso serviço ao teatro brasileiro...

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  4. Querido, que trabalho importante. O fiz, certa vez, no começo dos anos 2000 e sei o quanto exige dedicação e atenção. Você produziu um documento dos mais relevantes ao olhar teatral atual. Todos lhe agradecemos. Beijos e vamos que vamos. Ruy Filho.

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