Refluxo
Crise,
corte de verbas para a cultura, editais ameaçados de não se realizarem. Tudo
isso não foi suficiente para o teatro paulistano esmorecer. Cerca de 1000
espetáculos passaram pelos palcos da cidade em 2017 e 633 deles foram de
autores brasileiros. Essa informação é extraída dos guias de teatro de São
Paulo e não inclui teatro infantil, espetáculos de comédia stand up e trabalhos realizados na periferia da cidade que não
constam dos guias consultados. Os títulos apresentados podem ser tanto estreias
e reestreias como espetáculos vindos da temporada do ano anterior.
O
objeto de análise da presente matéria é dramaturgia brasileira. Segue abaixo quadro
comparativo dos títulos brasileiros apresentados em São Paulo nos últimos sete
anos:
2011 – 505
2012 – 493
2013 – 578
2014 – 583
2015 – 495
2016 – 611
2017 – 633
Quantitativamente os números estão longe
de demonstrar uma situação crítica.
Suassuna - O Auto do Reino do Sol
De
maneira geral, com exceção de Nelson Rodrigues e Plínio Marcos que são
constantemente reencenados, os autores contemporâneos dominam a cena. Obras
importantes de autores como Jorge Andrade, Carlos Alberto Soffredini, Oduvaldo
Vianna Filho e José Vicente raramente aparecem. Dos mais antigos, eventualmente
surgem apenas os nomes de Martins Pena e Artur Azevedo e é só. A gloriosa
exceção do ano foi a remontagem de O Rei
da Vela de Oswald de Andrade pelo Grupo Oficina, oitenta anos após ter
sido escrita e cinquenta após ter sido montada.
O Rei da Vela
O
ano de 2017 não foge à regra. O autor mais montado foi Rodolfo García Vázquez
com seis títulos, cinco deles em parceria com Ivam Cabral (esses números
incluem a trilogia Pessoas). Mário
Bortolotto e Nelson Rodrigues também comparecem com cinco peças.
Autores
com quatro espetáculos: Michele Ferreira, Plínio Marcos, Regiana Antonini, Ricardo
Leitte e Vinicius Calderoni.
O
expressivo número de 18 autores apresentou três espetáculos no ano e com dois
trabalhos foram 36 autores.
Excetuando-se
as criações coletivas (62), os espetáculos em processo colaborativo (oito) e
outros tipos de dramaturgia (nove), 491 autores tiveram apenas um título
apresentado. Muitos nomes desconhecidos aparecem nesta lista e lamentavelmente
é muito difícil que eles venham a comparecer no futuro.
Fato
digno de nota é que o ano teve média de 53 novos títulos por mês, mas o total
em cartaz se manteve constante (aproximadamente 160), assim se pode concluir
que em média 53 títulos deixaram o cartaz a cada mês, o que significa alta
rotatividade e pouco tempo de permanência em cartaz.
Foram
105 monólogos, 118 peças com dois atores e 410 espetáculos com elenco de três
ou mais atores.
Tchekhov É Um Cogumelo
399
dramas, 137 comédias, 51 musicais e 46 em outros gêneros. Apesar da maior
concentração em dramas, são as comédias que apresentam maior longevidade em
cartaz. Os musicais continuam mostrando bastante fôlego, o que - apesar de não
fazer parte desta análise - parece não acontecer com as comédias stand up.
Dificilmente
a ficha técnica explicita se determinado espetáculo foi concebido em processo
colaborativo. O critério aqui adotado foi: se aparece apenas o(s) nome(s) do(s)
autor(es) a classificação é “Dramaturgia de Autor”; caso apareça o nome do
grupo na autoria a classificação é “Criação Coletiva”; caso apareça o nome do
grupo e um autor a classificação é “Processo Colaborativo”. Os outros títulos
podem ser “Adaptação” ou não se encaixar em nenhuma dessas classificações.
Dramaturgia de
autor: 535
Criação Coletiva:
62
Processo
Colaborativo: 8
Adaptação: 19
Outros: 9
136
espetáculos levam o nome de um grupo e 497 não o fazem.
Em
334 casos o autor exerce outra função no espetáculo (em geral diretor e/ou ator),
restringindo-se somente à dramaturgia em 299 títulos.
Siete Grande Hotel
Títulos
expressivos e de alto nível como Refluxo
(Ângela Ribeiro), Pagliacci (Luís
Alberto de Abreu), Jacy (Pablo
Capristano e Iracema Macedo), Gritos
(Arthur Ribeiro e André Curti), Marte,
Você Está Aí? (Silvia Gomez), Hotel Mariana (Munir Pedrosa), Suassuna – O Auto do Reino do Sol (Bráulio Tavares), Siete Grande Hotel (Rudifran Pompeu), Tchekhov É Um Cogumelo (André Guerreiro Lopes) mostraram que
qualidade também esteve presente nesse 2017 quantitativamente bastante rico.
VIVA
O TEATRO BRASILEIRO!
02/01/2018
Só um engenheiro com aquelas planilhas invejáveis para fazer um trabalho desses. Parabéns, Cetra!
ResponderExcluirGrande Cetra! Ótima análise!
ResponderExcluirGenial essa sua análise e mostra a seriedade e a paixão pela memória da nossa cultura, teu trabalho é um imenso serviço ao teatro brasileiro...
ResponderExcluirGenial essa sua análise e mostra a seriedade e a paixão pela memória da nossa cultura, teu trabalho é um imenso serviço ao teatro brasileiro...
ResponderExcluirQuerido, que trabalho importante. O fiz, certa vez, no começo dos anos 2000 e sei o quanto exige dedicação e atenção. Você produziu um documento dos mais relevantes ao olhar teatral atual. Todos lhe agradecemos. Beijos e vamos que vamos. Ruy Filho.
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