A
mais paulista das companhias teatrais cariocas está de volta na cidade para
apresentar Hollywood, a última peça
da Trilogia Mamet realizada por ela.
Trata-se da Cia. Teatro Epigenia que
já nos trouxe os memoráveis Olleana
em 2015 e Race em 2017. Hollywood tem o mesmo grau de excelência
dos espetáculos anteriores, todos eles dirigidos por Gustavo Paso.
Ùltima
a ser encenada pela companhia, Speed the Plow,
título original (algo como “dê mais velocidade ao arado”) de Hollywood, foi a primeira escrita (1988)
das três peças que compõem o projeto. O jogo de palavras, a qualidade dos
diálogos e a dualidade das personagens características do dramaturgo americano
aqui também estão presentes. Tony Miller e Daniel Fox são dois amigos/colegas que
trabalham na indústria de entretenimento, ambos com ideias muito claras sobre o
que produzir (no caso, filmes) com o objetivo de ser comercialmente bem
sucedido (muito público e muitos dólares de retorno). Surge uma secretaria
temporária, segundo eles, sem a menor importância, que com suas ideias abala as
convicções comerciais de um deles convencendo-o a produzir um filme de arte com
mensagens humanistas. Nessa reviravolta surge o embate entre os amigos. Contar
mais seria estragar o prazer do final da peça. Só posso adiantar que, ao
contrário de Olleana e Race, aqui, ao menos um personagem, não
tem segundas por trás das más e oportunistas intenções.
A
encenação de Paso, adaptada ao palco do auditório do Sesc Pinheiros, consegue
superar o pequeno tamanho do espaço. O cenário coberto de papel bolha, de
autoria do diretor, nos leva a um escritório em obras com a ajuda da iluminação
de Paulo Cesar Medeiros, que tem belo momento na cena do apartamento de Tony
Miller. Paso sabe manter a qualidade e o fluxo dos diálogos do autor,
conduzindo os atores para o melhor resultado dessas características.
Rubens
Caribé atende às características de Tony Miller, o produtor recém-promovido que
é influenciado pela opinião da secretaria. Com seu habitual carisma o ator marca
mais um gol na sua bem sucedida carreira.
Luciana
Fávero empresta seu talento para compor Karen, a secretaria. Participação
relativamente pequena, mas fundamental para o desenvolvimento da trama.
Iuri
Saraiva, um jovem de 33 anos, com a difícil tarefa de interpretar o estressado
Daniel Fox, substituindo o excelente Gustavo Falcão (que o fez na temporada
carioca) é uma verdadeira revelação fazendo a cena pulsar (e até desmoronar!!)
com seus ataques histéricos, quando vê sua chance de ficar rico correr o risco
de não se realizar.
E
viva o poder do dinheiro! Mamet ironiza e critica o mundo machista e material.
Grande texto, solidamente traduzido cenicamente com elenco muito preparado, só
pode resultar em bom teatro, daquele a que não se assiste todos os dias.
Relembrando as palavras de Ferreira Gullar: “A arte tem de ter algo que me tira do chão e me deslumbra”.
Hollywood fica em cartaz de 11/01 a
10/02 no de quinta a sábado às 20h30 no Sesc Pinheiros. Para quem não viu (ou
quer rever) haverá três sessões de Olleana
em 15, 16 e 17/02 e outras três de Race
em 22, 23 e 24/02 nos mesmos horários.
O casal Luciana Fávero e Gustavo Paso, idealizadores da Cia. Teatro Epigenia
Em
tempo: A companhia tem intenções de se estabelecer em São Paulo. Será um grande
ganho para os palcos paulistanos. Torcendo!
13/01/2018
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