As
falcatruas dos ditos governantes deste pobre país se ajustam como uma luva às
perversas intrigas palacianas das peças de Shakespeare. Foi assim com o
memorável e absurdamente não reapresentado Os
Collegas (2003), criação coletiva da Bendita
Troupe dirigida por Johana Albuquerque que mostrava as mazelas da era
Collor de maneira direta e corajosa e é assim agora com este Michel III , brilhante texto de Fabio
Brandi Torres que, fazendo quase uma colagem - no melhor estilo do teatro de
revistas - dos textos de Shakespeare mostra de maneira cômica os absurdos acontecimentos
políticos brasileiros da última década.
O
diretor Marcelo Varzea em sintonia com a ironia do texto cria encenação ágil
sem tempos vazios com toques circences e revisteiros, tudo isso para falar de
coisas muito sérias como a corrupção, os jogos de poder e o radicalismo que
assolam o país. Sabe-se que o humor tem poder corrosivo e reflexivo e é nesta
linha que Varzea conduz o espetáculo.
Todo
esse esforço seria em vão sem um elenco talentoso e harmonioso com bom tempo de
comédia e distanciamento brechtiano como esse formado por três atrizes e três
atores. Todos eles têm seu momento no espetáculo. Lena Roque tem presença
cênica forte e aproveita cada instante para mostrar seu lado cômico como aquele
em que desenvolve o famoso solilóquio de Hamlet trocando o verbo “ser” por “delatar”.
A hilariante “majestada” da talentosa Martha Meola mostra que, apesar de tudo,
a peça não toma partido de nenhum dos lados. Amazyles de Almeida, que comenta
que nunca fez comédia, brilha nos tropeções, na transformação da Lady MacBeth e
na famosa cena da Julieta no balcão (pois é, até Romeu e Julieta entrou na divertida trama de Brandi Torres). A ala
masculina não deixa por menos: Fabiano Medeiros é um impagável Iago Cunha, além
de cantar muito bem. Michel Waisman se encarrega com desenvoltura de várias
personagens. Finalmente, o protagonista! Marcelo Diaz tem grande momento de
sua carreira como o maquiavélico Michel, usando seu lado histriônico e
engraçado com bem vindo equilíbrio. Digna de nota a melhoria da dicção do
ator que também equilibrou a velocidade com que emite as palavras.
O
movimento dos atores é bastante dinâmico graças à direção de Erica Rodrigues.
Perfeito equilíbrio e discrição nos demais elementos de cena: cenário (Marcelo
Varzea), figurinos (Larissa Paulino e Vanessa Wander), iluminação (Lena Roque)
e sonoplastia (André Hã). Assistência de direção de Tadeu Freitas.
O
grande mérito de Michel III é a fácil
identificação de quem está por trás do Mineirinho, do Iago Cunha, da Majestada
e também daquelas personagens de
Shakespeare. Somente o Michel é Michel mesmo. Com isso a peça se torna quase
didática e fonte de muita reflexão, além de ser muito divertida.
SÃO
SÓ QUATRO FINS DE SEMANA! De 06 a 28 de janeiro, sábados e domingos às 19h.
Ingressos gratuitos distribuídos uma hora antes do início. Apresentado no
simpático Teatro dos Arcos, reaberto para este espetáculo. NÃO DEIXE DE VER!
06/01/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário