sábado, 6 de janeiro de 2018

MICHEL III


        As falcatruas dos ditos governantes deste pobre país se ajustam como uma luva às perversas intrigas palacianas das peças de Shakespeare. Foi assim com o memorável e absurdamente não reapresentado Os Collegas (2003), criação coletiva da Bendita Troupe dirigida por Johana Albuquerque que mostrava as mazelas da era Collor de maneira direta e corajosa e é assim agora com este Michel III , brilhante texto de Fabio Brandi Torres que, fazendo quase uma colagem - no melhor estilo do teatro de revistas - dos textos de Shakespeare mostra de maneira cômica os absurdos acontecimentos políticos brasileiros da última década.
        O diretor Marcelo Varzea em sintonia com a ironia do texto cria encenação ágil sem tempos vazios com toques circences e revisteiros, tudo isso para falar de coisas muito sérias como a corrupção, os jogos de poder e o radicalismo que assolam o país. Sabe-se que o humor tem poder corrosivo e reflexivo e é nesta linha que Varzea conduz o espetáculo.


        Todo esse esforço seria em vão sem um elenco talentoso e harmonioso com bom tempo de comédia e distanciamento brechtiano como esse formado por três atrizes e três atores. Todos eles têm seu momento no espetáculo. Lena Roque tem presença cênica forte e aproveita cada instante para mostrar seu lado cômico como aquele em que desenvolve o famoso solilóquio de Hamlet trocando o verbo “ser” por “delatar”. A hilariante “majestada” da talentosa Martha Meola mostra que, apesar de tudo, a peça não toma partido de nenhum dos lados. Amazyles de Almeida, que comenta que nunca fez comédia, brilha nos tropeções, na transformação da Lady MacBeth e na famosa cena da Julieta no balcão (pois é, até Romeu e Julieta entrou na divertida trama de Brandi Torres). A ala masculina não deixa por menos: Fabiano Medeiros é um impagável Iago Cunha, além de cantar muito bem. Michel Waisman se encarrega com desenvoltura de várias personagens. Finalmente, o protagonista! Marcelo Diaz tem  grande momento de sua carreira como o maquiavélico Michel, usando seu lado histriônico e engraçado com bem vindo equilíbrio. Digna de nota a melhoria da dicção do ator que também equilibrou a velocidade com que emite as palavras.
        O movimento dos atores é bastante dinâmico graças à direção de Erica Rodrigues. Perfeito equilíbrio e discrição nos demais elementos de cena: cenário (Marcelo Varzea), figurinos (Larissa Paulino e Vanessa Wander), iluminação (Lena Roque) e sonoplastia (André Hã). Assistência de direção de Tadeu Freitas.
        O grande mérito de Michel III é a fácil identificação de quem está por trás do Mineirinho, do Iago Cunha, da Majestada e também  daquelas personagens de Shakespeare. Somente o Michel é Michel mesmo. Com isso a peça se torna quase didática e fonte de muita reflexão, além de ser muito divertida.
        SÃO SÓ QUATRO FINS DE SEMANA! De 06 a 28 de janeiro, sábados e domingos às 19h. Ingressos gratuitos distribuídos uma hora antes do início. Apresentado no simpático Teatro dos Arcos, reaberto para este espetáculo. NÃO DEIXE DE VER!

06/01/2018


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