A REALIDADE BATE À SUA PORTA... E COBRA SEU PREÇO!
Na
primeira cena de As 3 Uiaras de SP City,
a travesti Miella cumprimenta o público e mostra o quanto ele é responsável,
conivente ou, no mínimo, omisso em relação á perseguição e à intolerância com
as travestis. A cena é forte e permite que cada um reveja seus conceitos. “Não mi objetifique sexualmente nem mi trate
com violência, ouviu?, pelo menus no teatro, já q agora tô ocupando esse espaço”, fala Miella em certo
momento dirigindo-se agressivamente aos espectadores em um olho no olho difícil
de encarar.
A
esse prólogo segue-se a história da relação de Miella com sua amiga Cínthia que
sonha fazer um show e da mulher cis Valéria, militante feminista que abraça a
causa das travestis. Elas são as três Uiaras que vão viver a perseguição que um
tal delegado Rochetti faz às travestis e àqueles que ele chama de “vagabundos”
por não terem carteira de trabalho assinada. A peça se baseia em fatos reais
ocorridos nos anos duros da ditadura militar (1970/1980), mas a atual taxação
que travesti é marginal e sua consequente perseguição dão uma triste atualidade
ao que é apresentado neste forte e necessário texto de Ave Terrena Alves,
escrito em português bastante característico como pode ser notado na frase de
Miella citada acima.
Ave Terrena Alves, autora
Muito
interessante e bem vinda é a inclusão da guerreira Ruth Escobar como personagem
defensora dos direitos humanos; o embate de Ruth com Rochetti é um dos momentos
mais impactantes da peça. Uma verdadeira homenagem a essa mulher a quem o
teatro paulistano tanto deve.
A
encenação de Diego Moschkovich tem bons aliados nos figurinos de Diogo Costa,
na iluminação de Wagner Antônio e na participação de três músicos ao vivo e
concentra-se na interpretação do elenco. Há um belo achado interativo na cena
da passeata pela liberação das travestis e pela deposição de Rochetti.
Sophia
Castellano (Valéria) e Diego Chilio (Rochetti) começam suas cenas titubeantes e
revelando certa insegurança, mas crescem de maneira surpreendente ao longo da
ação. Maria Emília Faganello tem uma entrada triunfal como Ruth Escobar e
brilha junto com Diego na já citada do embate.
Sophia Castellano, Veronica Valentino e Danna Lisboa
Veronica
Valentino tem voz potente e bela, além de grande presença cênica, sendo
responsável pelos poucos momentos de humor do espetáculo. À poderosa
interpretação do prólogo, segue-se um meticuloso trabalho de composição de
Danna Lisboa para sua personagem Miella. Os trabalhos dessas duas atrizes podem
ser considerados como uns dos melhores vistos neste ano nos teatros de SP City.
Dessa
maneira, esta 4ª edição da Mostra de
Dramaturgia em Pequenos Formatos
Cênicos do CCSP começa com o pé direiro, revelando o texto tão oportuno e
bem realizado de Ave Terrena Alves. Longa vida à Mostra!
AS
3 UIARAS DE SP CITY fica em cartaz no CCSP apenas até 10/06. Sexta e sábado ás
21h e domingo às 20h.
03/06/2018
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