domingo, 3 de junho de 2018

AS 3 UIARAS DE SP CITY



A REALIDADE BATE À SUA PORTA... E COBRA SEU PREÇO!

        Na primeira cena de As 3 Uiaras de SP City, a travesti Miella cumprimenta o público e mostra o quanto ele é responsável, conivente ou, no mínimo, omisso em relação á perseguição e à intolerância com as travestis. A cena é forte e permite que cada um reveja seus conceitos. “Não mi objetifique sexualmente nem mi trate com violência, ouviu?, pelo menus no teatro, já q agora tô ocupando esse espaço”, fala Miella em certo momento dirigindo-se agressivamente aos espectadores em um olho no olho difícil de encarar.
        A esse prólogo segue-se a história da relação de Miella com sua amiga Cínthia que sonha fazer um show e da mulher cis Valéria, militante feminista que abraça a causa das travestis. Elas são as três Uiaras que vão viver a perseguição que um tal delegado Rochetti faz às travestis e àqueles que ele chama de “vagabundos” por não terem carteira de trabalho assinada. A peça se baseia em fatos reais ocorridos nos anos duros da ditadura militar (1970/1980), mas a atual taxação que travesti é marginal e sua consequente perseguição dão uma triste atualidade ao que é apresentado neste forte e necessário texto de Ave Terrena Alves, escrito em português bastante característico como pode ser notado na frase de Miella citada acima.

Ave Terrena Alves, autora

        Muito interessante e bem vinda é a inclusão da guerreira Ruth Escobar como personagem defensora dos direitos humanos; o embate de Ruth com Rochetti é um dos momentos mais impactantes da peça. Uma verdadeira homenagem a essa mulher a quem o teatro paulistano tanto deve.
        A encenação de Diego Moschkovich tem bons aliados nos figurinos de Diogo Costa, na iluminação de Wagner Antônio e na participação de três músicos ao vivo e concentra-se na interpretação do elenco. Há um belo achado interativo na cena da passeata pela liberação das travestis e pela deposição de Rochetti.
        Sophia Castellano (Valéria) e Diego Chilio (Rochetti) começam suas cenas titubeantes e revelando certa insegurança, mas crescem de maneira surpreendente ao longo da ação. Maria Emília Faganello tem uma entrada triunfal como Ruth Escobar e brilha junto com Diego na já citada do embate.

Sophia Castellano, Veronica Valentino e Danna Lisboa

        Veronica Valentino tem voz potente e bela, além de grande presença cênica, sendo responsável pelos poucos momentos de humor do espetáculo. À poderosa interpretação do prólogo, segue-se um meticuloso trabalho de composição de Danna Lisboa para sua personagem Miella. Os trabalhos dessas duas atrizes podem ser considerados como uns dos melhores vistos neste ano nos teatros de SP City.
        Dessa maneira, esta 4ª edição da Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP começa com o pé direiro, revelando o texto tão oportuno e bem realizado de Ave Terrena Alves. Longa vida à Mostra!

        AS 3 UIARAS DE SP CITY fica em cartaz no CCSP apenas até 10/06. Sexta e sábado ás 21h e domingo às 20h.

        03/06/2018
       

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