sábado, 2 de junho de 2018

Pi – PANORÂMICA INSANA



O RETRATO DO CAOS

        O elucidativo programa da peça Pi contém valiosas informações sobre os malefícios que o homem já provocou para si e para este pobre planeta; uma delas mostra que se a escala de criação da terra fosse marcada por 24 horas, o homem teria surgido no último segundo antes do dia se completar. O espetáculo de Bia Lessa mostra que seria melhor que o homem tivesse ficado para o dia seguinte, ou melhor ainda, para nunca mais. Mas uma vez que estamos por aqui e criamos um mundo que não nos serve, algo precisa ser feito, completa a diretora. E o que ela faz é denunciar fortemente o caos provocado pelos seres humanos.
        Pi é um dos acontecimentos teatrais mais importantes e contundentes surgidos neste ano nos palcos paulistanos. Bia Lessa repete com maior impacto aquele provocado por Grande Sertão: Veredas no ano passado.
        A peça é montada em um teatro semi destruído e tem todo o espaço cênico coberto com 11 mil peças de roupa que terão papel importante no desenvolver da ação. A encenação remete a um dos primeiros trabalhos de Bia Lessa, o Exercício nº1 (1987) tanto na concepção cênica como nos temas tratados. Apresentado em São Paulo no Teatro Mars no ano seguinte, Exercício nº1 apresentava em flashes vários aspectos de um mundo cruel e Pi mostra que a situação só piorou nos 30 anos que separam os dois espetáculos, além de também comprovar a maturidade e a criatividade da diretora. As cenas são assinadas por Júlia Spadaccini, Jô Bilac e André Sant'Anna.
        Os quatro atores iniciam a peça vestindo e desvestindo roupas e caracterizando os donos daqueles vestuários. Essa ação acontece enquanto o público adentra a sala e o ritmo da troca de roupas aumenta vertiginosamente até o espetáculo realmente começar. Não se trata de uma história, mas de vários fragmentos do mundo contemporâneo como aquele dos habitantes de um lixão, o nascimento, a morte, o sexo, a ostentação, o preconceito, a guerra e tantas outras coisas criadas pelo homem. Há até um momento suave com brincadeiras de crianças.
        Cláudia Abreu, Leandra Leal, Rodrigo Pandolfo e Luiz Henrique Nogueira encarregam-se de representar todas essas situações com entrega pouco vista em nossos palcos. Seria injusto destacar este ou aquele nome porque todos estão absolutamente soberbos em suas interpretações. No caso de um prêmio ele só seria justo se contemplasse o elenco como um todo. E por falar em prêmios, Bia Lessa é mais uma vez forte candidata àquele de melhor direção, assim como o seu espetáculo, onde tudo se encaixa de maneira perfeita: cenografia, luz e a excelente trilha sonora que vai desde o belíssimo tema do filme Amor à Flor da Pele até a poderosa música das óperas de Wagner.
       
        Ao contrário do número pi (3,1416...., lembra?) que talvez termine no infinito, a peça tem um final que é de tamanho impacto que as pessoas saem da sala atordoadas e com lágrimas nos olhos.
        Somos responsáveis pelo mundo em que vivemos e Pi nos faz refletir sobre isso.


        Pi – Panorâmica Insana está em cartaz no Teatro Novo situado em uma galeria da Rua Domingos de Moraes, 348 ás sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 18h até 29/07. IMPERDÍVEL.

        02/06/2018


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