Nem
todos os dias da quarentena se parecem. Em alguns o céu está azul e o sol entra
pela janela, em outros o céu está alaranjado no final da tarde, ás vezes há
muitas nuvens e ainda em outros a noite é iluminada pela lua. Os domingos
parecem ser mais solitários porque não há a companhia dos programas de rádio
que acompanho durante a semana e as pessoas parecem estar mais recolhidas e
distantes do Facebook e do Whatsapp. Além disso, os dias diferem
principalmente pelo meu estado de espírito que a cada dia pode estar diferente,
assim como o humor da Valentina.
Tudo
isso para notar que no último domingo eu estava bastante emotivo. Não estava triste.
Eram emoções gostosas que fizeram brotar lágrimas em meus olhos em diversos
momentos.
A
primeira vez foi ao ouvir algumas canções de Ao Sul do Pacífico (South Pacific), musical de Rodgers e
Hammerstein: Bali Hai preparou minha
emoção que explodiu durante Some
Enchanted Evening. E como não chorar ao ouvir Climb Every Mountain (The
Sound of Music) e, principalmente, You’ll Never Walk Alone (Carousel).
Com o coração
devidamente sensibilizado escolhi dois filmes para assistir que de antemão eu
sabia que iriam me levar às boas lágrimas.
O
primeiro foi Ladrões de Bicicletas
(1948), a obra prima do neo realismo italiano, dirigida por Vittorio De Sica
realizada com atores não profissionais e filmada numa Roma devastada pela pós
guerra onde imperava o desemprego e a pobreza. Assusta pensar que poderemos ter
situação parecida ao final dessa pandemia trazida pelo novo corona vírus.
Leonardo
Maggiorani está ótimo como o pai desesperado à procura da bicicleta, sua
ferramenta de trabalho que foi roubada, mas quem carrega o filme e provoca
lágrimas é o garoto Enzo Staiola, então com nove anos no papel do filho Bruno. Hoje
Staiola é um belo senhor de 80 anos que se tornou professor de matemática, uma
vez que sua carreira cinematográfica não deslanchou como a de tantos outros
atores infantis que surgem com grandes interpretações apenas no primeiro filme
(assisti a uma entrevista dele no youtube,
logo depois de ver o filme). O filme me remete à minha infância e ao Cine
Nacional onde meu tio Amadeu o assistiu por volta de 1952 e comentou que o
garoto lembrava muito o Zezinho (eu!!).
A
segunda escolha recaiu em outro italiano: Nós
Que Nos Amávamos Tanto (1974), um
dos grandes filmes de Ettore Scola e que tem um dos títulos mais belos que se
tem notícia, tanto em italiano (C’Eravamo
Tanto Amati), como na tradução dada em português que me soa ainda mais
bonita do que aquela original.
O
filme trata de três jovens que se conheceram durante a segunda guerra mundial e
de seus encontros e desencontros até a velhice. Um deles conhece e se apaixona
por uma bela jovem (Stefania Sandrelli, esplendorosa como sempre) que terá
papel importante na vida dos três. Um belo filme sobre como na maioria das
vezes os sonhos da juventude não se realizam e como as pessoas podem mudar ao
longo da vida. A trama me lembrou daquela decepção que sentimos ao reencontrar
antigos companheiros de juventude naqueles encontros comemorativos do ano de
formatura no colégio ou na faculdade.
Nino
Manfredi, Vittorio Gassman e Stefano Salla Flores representam os três amigos e
o elenco ainda conta com Aldo Fabrizi, ícone da comédia italiana. O filme ainda
conta com deliciosas participações de Federico Fellini e Marcelo Mastroianni
numa reconstituição da famosa cena na Fontana di Trevi de A Doce Vida e de Vittorio De Sica numa palestra sobre o filme Ladrões de Bicicletas. Todos falecidos.
E
assim passei mais este domingo que tive a oportunidade de viver.
- FIM -
20/04/2020
Amo qdo vc comenta sobre cinema, como aprendo com vc sobre essa arte de que gosto tanto, mas sobre a qual tenho tão pouco conhecimento.
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