No
dia 16 de abril de 1944 já fazia quase dois anos que as famílias Frank e van
Daan estavam escondidas do jugo nazista no anexo de uma casa em Amsterdam, sem
qualquer contato com o mundo exterior. A jovem Anne então com 15 anos estava
enamorada pelo rapaz Peter, filho dos van Daan e nesse dia eles trocaram seu
primeiro beijo.
Era
domingo de Ramos e nesse mesmo dia do outro lado do oceano e distante da guerra
que abalava a Europa, nascia ao meio dia um garoto saudável e, segundo dizem, fofo
e bonitinho. Era eu dando meu primeiro alô para o mundo.
A
guerra terminou em 1945 e alguns anos depois veio à luz o emocionante diário de
Anne onde ela relata o seu dia a dia naquela terrível quarentena de dois anos a
que aqueles seres foram submetidos, sob a ansiedade e o temor de serem bombardeados
ou descobertos o que acabou acontecendo dia 04 de agosto de 1944. Eles foram
enviados para campos de concentração onde, com exceção do pai de Anne, todos
morreram nas câmaras de gás ou de inanição.
Na
forma de livro, o diário rodou o mundo, tendo sido adaptado para o teatro pelo
casal de dramaturgos norte americano Albert Hackett e Frances Goodrich. Chegou
ao Brasil em 1958 na tradução de Gert Meyer e logo em seguida a peça foi
montada com grande sucesso por Antunes Filho.
Com apenas quatorze anos eu não tinha
condições de ir ao teatro, mas usei minha mesada para comprar o texto da peça, livro que conservo até hoje (tem
a minha titubeante assinatura da época e está datado de 16/10/1958).
Foi assim que tomei contato com a tragédia
da família Frank e com as atrocidades cometidas pelos nazistas na segunda
guerra mundial. Tempos depois li o diário original, assisti ao filme dirigido
por George Stevens em 1959 e em 1977/1978 quando morei na Holanda visitei
várias vezes sempre sob forte comoção a casa onde tudo aconteceu. Acabo de ler
a bonita versão em quadrinhos que foi feita do diário por Ari Folman e David
Polonsky.
O prédio na Prinsengracht 263 em Amsterdam, na sua parte traseira ficava o anexo que serviu de esconderijo para a família Frank.
Confesso que cada vez que me aproximo dessa história sinto um aperto no coração e uma revolta muito grande pela triste confirmação do que o ser humano é capaz e pior, que nos dias de hoje fatos como esse ainda podem voltar a acontecer mesmo aqui no Brasil, haja vista, o olhar simpático para o fascismo e para regimes ditatoriais que tem o atual governo brasileiro.
A
maior lição que Anne Frank nos lega é sua perseverança e a esperança em dias
melhores. Aos nos lamentarmos da quarentena a que estamos obrigados por conta
da pandemia não custa lembrar do período terrível de mais de dois anos a que aquelas
famílias foram submetidas e das palavras de Anne no dia 15 de julho de 1944, apenas
vinte dias antes de ser capturada:
Apesar
de tudo, eu ainda acredito na bondade humana.
25/05/2020
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