sexta-feira, 15 de maio de 2020

JORNADA COM CARMEN



        Nesses dias de isolamento tenho recorrido entre outras coisas à minha DVDteca para assistir a um filme, indo de Theo Angelopoulos a Oscarito. Um dia um filme cabeça, no outro uma divertida chanchada carioca porque ninguém é de ferro.
        Sendo assim, ao sair da barra que é, principalmente nos dias de hoje, O Sétimo Selo de Ingmar Bergman, fui procurar filmes amenos e lembrei-me da minha amada Carmen Miranda (1909-1955).
 
 
        O primeiro filme que me veio à lembrança foi o documentário Bananas Is My Business (1995) de Helena Solberg e David Meyer por acreditar que iria ver uma coletânea dos deliciosos números musicais de Carmen, mas trata-se de filme bastante triste, haja vista que começa com a reconstituição do momento em que ela sofre o ataque cardíaco que a matou no dia 05 de agosto de 1955 logo após ter participado de um show na televisão, onde sofre uma queda em cena e continua com cenas do cortejo do corpo pelas ruas do Rio de Janeiro e com o velório no Theatro Municipal. Em seguida o filme faz uma revisão bastante crítica da carreira cinematográfica de Carmen. O filme é muito bom, mas nada ameno e terminei de assisti-lo com um gostinho amargo na boca. Para fechar a noite de maneira mais leve coloquei no DVD player a deliciosa e antológica cena do filme Entre a Loura e a Morena (The Gang’s All Here) de 1943 faraonicamente coreografada por Busby Berkeley onde Carmen canta The Lady With the Tutti Frutti Hat com um gigantesco turbante de bananas na cabeça.
 
 

        Nos dias seguintes além de assistir a esse filme completo, revi Serenata Tropical (Down Argentina Way) (1940), o primeiro filme de Carmen nos Estados Unidos onde ela interpreta a ela mesma em três números musicais.  
        Rosita, Dorita, Chiquita, Carmelita e até Chita Chula foram alguns dos nomes que roteiristas norte americanos deram às personagens que Carmen interpretou nos treze anos em que fez cinema em Hollywood, o que revela o que se esperava dela nessas comediazinhas escapistas e inconsequentes, mas é incrível como ela tem luz própria e brilha com seu balanço, seus olhares e seu senso de humor nos poucos momentos que lhe são oferecidos. Esses momentos são solares e mantém um frescor que não revelam seus 80 anos, ao contrário dos filmes a que pertencem que se mostram bastante datados e ultrapassados.
        Muito se escreveu sobre a pequena notável sendo a mais importante biografia aquela escrita por Ruy Castro.
        Também no teatro Carmen Miranda é sempre revivida. Dragqueens e travestis adoram imitar seus requebros e remelexos, assim como atrizes do calibre de Stella Miranda e até da grande Marília Pêra, que tinha a frustração de não poder fazer um espetáculo totalmente dedicado a ela, por questões de direitos autorais e de limitações impostas pela família de Carmen.
        Em 2018 Kleber Montanheiro, baseado em livro infanto- juvenil de Heloisa Seixas e Julia Romeu, encenou um dos mais bem sucedidos espetáculos sobre a cantora com memorável interpretação de Amanda Acosta.
        No campo da música é notável a recriação das músicas de Carmen por Ná Ozzetti no álbum Balangandãs (2009).
 

        E a quarentena serviu para eu fazer esta verdadeira imersão em Carmen Miranda que hoje aos 111 anos de vida continua aqui comigo coberta de penduricalhos e balangandãs, com um turbante de frutas na cabeça, revirando seus olhos maravilhosos, mexendo languidamente o corpo e cantando o chica chica boom chic, me enchendo de energia e de alegria!

VIVA CARMEN MIRANDA!

        14/05/2020

 

 

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