Nesses
dias de isolamento tenho recorrido entre outras coisas à minha DVDteca para assistir
a um filme, indo de Theo Angelopoulos a Oscarito. Um dia um filme cabeça, no
outro uma divertida chanchada carioca porque ninguém é de ferro.
Sendo
assim, ao sair da barra que é, principalmente nos dias de hoje, O Sétimo Selo de Ingmar Bergman, fui
procurar filmes amenos e lembrei-me da minha amada Carmen Miranda (1909-1955).
O
primeiro filme que me veio à lembrança foi o documentário Bananas Is My Business (1995) de Helena Solberg e David Meyer por
acreditar que iria ver uma coletânea dos deliciosos números musicais de Carmen,
mas trata-se de filme bastante triste, haja vista que começa com a
reconstituição do momento em que ela sofre o ataque cardíaco que a matou no dia
05 de agosto de 1955 logo após ter participado de um show na televisão, onde
sofre uma queda em cena e continua com cenas do cortejo do corpo pelas ruas do
Rio de Janeiro e com o velório no Theatro Municipal. Em seguida o filme faz uma
revisão bastante crítica da carreira cinematográfica de Carmen. O filme é muito
bom, mas nada ameno e terminei de assisti-lo com um gostinho amargo na boca. Para
fechar a noite de maneira mais leve coloquei no DVD player a deliciosa e antológica cena do filme Entre a Loura e a Morena (The
Gang’s All Here) de 1943 faraonicamente coreografada por Busby Berkeley onde
Carmen canta The Lady With the Tutti
Frutti Hat com um gigantesco turbante de bananas na cabeça.
Nos
dias seguintes além de assistir a esse filme completo, revi Serenata Tropical (Down Argentina Way) (1940), o primeiro filme de Carmen nos Estados
Unidos onde ela interpreta a ela mesma em três números musicais.
Rosita,
Dorita, Chiquita, Carmelita e até Chita Chula foram alguns dos nomes que
roteiristas norte americanos deram às personagens que Carmen interpretou nos
treze anos em que fez cinema em Hollywood, o que revela o que se esperava dela
nessas comediazinhas escapistas e inconsequentes, mas é incrível como ela tem
luz própria e brilha com seu balanço, seus olhares e seu senso de humor nos
poucos momentos que lhe são oferecidos. Esses momentos são solares e mantém um
frescor que não revelam seus 80 anos, ao contrário dos filmes a que pertencem que
se mostram bastante datados e ultrapassados.
Muito
se escreveu sobre a pequena notável sendo a mais importante biografia aquela
escrita por Ruy Castro.
Também
no teatro Carmen Miranda é sempre revivida. Dragqueens e travestis adoram
imitar seus requebros e remelexos, assim como atrizes do calibre de Stella
Miranda e até da grande Marília Pêra, que tinha a frustração de não poder fazer
um espetáculo totalmente dedicado a ela, por questões de direitos autorais e de
limitações impostas pela família de Carmen.
Em
2018 Kleber Montanheiro, baseado em livro infanto- juvenil de Heloisa Seixas e
Julia Romeu, encenou um dos mais bem sucedidos espetáculos sobre a cantora com memorável
interpretação de Amanda Acosta.
No
campo da música é notável a recriação das músicas de Carmen por Ná Ozzetti no
álbum Balangandãs (2009).
E
a quarentena serviu para eu fazer esta verdadeira imersão em Carmen Miranda que
hoje aos 111 anos de vida continua aqui comigo coberta de penduricalhos e
balangandãs, com um turbante de frutas na cabeça, revirando seus olhos
maravilhosos, mexendo languidamente o corpo e cantando o chica chica boom chic,
me enchendo de energia e de alegria!
VIVA CARMEN MIRANDA!
14/05/2020
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