sexta-feira, 29 de maio de 2020

UMA NOVA EXPERIÊNCIA COM URSOS PANDAS EM FRANKFURT



        Todo dia pela manhã eu tiro meu moletom cinza claro e coloco o moletom cinza escuro, trocando também a camiseta de dormir pela camiseta do dia. Coloco as havaianas e vou viver meu dia de quarentena.
        No final da tarde tiro o moletom cinza escuro, tomo meu banho e já coloco o moletom cinza claro e a camiseta com a qual vou dormir.
        Nesses três meses de isolamento esse tem sido o meu vestuário, com exceção dos dias em que os ponho para lavar e sou obrigado a colocar um moletom de reserva mais velho ainda. Prometi para mim mesmo que no dia em que quarentena acabar a primeira coisa que vou fazer é colocar esses moletons no lixo.
 
        Mas hoje foi diferente! A rotina continuou a mesma até o banho, mas depois dele eu me paramentei com calça preta de sair, meias, sapato engraxado e um belo conjunto de blusas argentino preto e cinza. Passei perfume e até coloquei anel no dedo. Modéstia a parte até que me achei bonito e fiz uma selfie para documentar o momento histórico.
 

        Estava pronto para ir ao teatro! SIM! Ia assistir ao trabalho de artistas queridos pelo Zoom, algo que até ontem eu não tinha a menor ideia do que fosse. Já externei meu ponto de vista que respeito teatro filmado e lives, mas que não vejo essas manifestações como teatro. Teatro é a arte do encontro entre ator e espectador, cara a cara, olho no olho; é arte do efêmero.

        Bruno Kott utilizando na plataforma digital uma tecnologia que eu não vou saber explicar, consegue uma outra via que é live, mas cria uma atmosfera de encontro e de efemeridade chegando o mais próximo possível daquilo que é teatro.

Bruno Kott


        Escolheu para isso texto bastante ligado ao teatro do absurdo do dramaturgo romeno Matéi Visniec (A História dos Ursos Pandas Contada Por Um Saxofonista que Tem Uma Namorada em Frankfurt), adaptando-o para as conveniências desse projeto. A peça ganhou o título de Pandas ou Era Uma Vez em Frankfurt condensando em três noites o que no original se passava em nove, alem disso alterou o final, fazendo-o mais aberto, o que para mim, deu maior significado para a trama.

Nicole Cordery
 
Mauro Schames
 
        Nicole Cordery é a atriz excepcional de sempre, muito bem acompanhada de Mauro Schames e apesar de estarem atuando em locais físicos distintos a interação entre eles é total. Manipulam objetos de um espaço ao outro, além de criarem climas inusitados com a mudança do cenário que pode ir de um quarto abarrotado de objetos a uma bucólica paisagem (coisas da tecnologia que eu não entendo muito bem).
        Ao final do espetáculo os espectadores se encontram com o diretor e os atores para um delicioso bate papo e para receberem os mais que merecidos aplausos.

        Não é teatro no sentido mais rigoroso, mas chega bem perto.

        Gostei da experiência!

        28/05/2020

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