Eu
adoro livros e, principalmente, livros sobre teatro; quer sejam textos de
peças, estudos sobre teoria teatral, críticas teatrais ou biografias de
encenadores, atores, atrizes, cenógrafos. Não são livros que estão lá para enfeitarem
a estante; eu os manuseio e consulto constantemente como estou fazendo neste
momento para escrever esta matéria.
Há
um canto especial da biblioteca onde estão as minhas divas teatrais: Glauce
Rocha, Yara Amaral, Dina Sfat, Marília Pêra, Fernanda Montenegro, Cacilda
Becker, Laura Cardoso, Cleyde Yáconis, Berta Zemel, Lilian Lemmertz, Célia
Helena, Débora Bloch, Andréa Beltrão, Ruth Escobar, Maria Della Costa, mas faltava
uma figura importantíssima: Bibi Ferreira. Por incrível que pareça não havia
nenhum livro contando um pouco dessa grande figura que praticamente viveu todo
o teatro brasileiro do século 20 e chegou gloriosa até o século 21, nos
deixando a bem pouco tempo aos 96 anos de idade.
Grande
Bibi Ferreira de quem não assisti a muitas coisas.
Minha
primeira lembrança dela é no Grande
Teatro Tupi nos primórdios da televisão na década de 1950. Muitas peças que
saíam de cartaz no domingo eram apresentadas na íntegra e ao vivo na segunda
feira nesse programa da TV Tupi. Eu tinha cerca de dez anos de idade, mas ainda
tenho na memória a figura daquela atriz pequenina com os cabelos puxados para
trás interpretando uma peça intitulada A
Herdeira. Claro que não devo ter entendido nada da historia, mas aquela
figura me marcou para sempre.
No
início ela era a filha do Procópio Ferreira, mas depois ele é que era conhecido
como o pai da Bibi Ferreira.
Bibi
entrou em um palco pela primeira vez com 24 dias de vida em 1922 e saiu dele em
2018 com 96 anos. Esteve praticamente um século nas ribaltas, atuando e
dirigindo peças, shows e até óperas. A maioria de seus espetáculos como atriz
aconteceu até a década de 1960 (quase uma centena). Não cheguei a assistir aos dois musicais
antológicos que Bibi fez: My Fair Lady
(1962) e Alô, Dolly (1965), tendo a
visto apenas na televisão na apresentação da série Brasil 1960 na TV Excelsior.
O
grande dia de vê-la no teatro chegou em 1972 quando ela dividiu o palco do
Teatro Anchieta com Paulo Autran em O
Homem de la Mancha, dirigida por
Flávio Rangel.
A
partir daí Bibi fez apenas mais três peças, todas cumprindo longas temporadas: Gota D’Água (1976), Piaf (1983) e Às Favas Com
os Escrúpulos (2007), tendo se
dedicado mais aos belíssimos shows nacionais e internacionais onde contava
histórias de sua carreira e cantava canções de Edith Piaf, de Amália Rodrigues
e até de Frank Sinatra
Tenho
algumas lacunas na minha “carreira” de espectador, uma delas é Esperando Godot dirigido por Antunes
Filho com elenco totalmente feminino, mas a maior delas é Gota D’Água, dirigida por Flávio Rangel, ambas apresentadas em São
Paulo em 1977, época em que eu morava na Holanda. É unânime a opinião de quem
assistiu de que Bibi estava simplesmente arrebatadora como a selvagem Joana da
peça de Chico Buarque e Paulo Pontes. Na época, amigos chegaram a me mandar
pelo Correio, fita cassete com a gravação da peça e depois foi lançado um disco
com os principais trechos/monólogos ditos por ela. Esse disco me emociona até
às lágrimas ainda hoje e sente-se a pulsação de ódio, de revolta e de vingança
daquela mulher traída, inspirada na Medeia
de Eurípedes. É o que se pode chamar de uma interpretação visceral.
E
havia essa lacuna na minha estante: Bibi Ferreira.
A
partir de ontem ela chegou majestosa em minha casa em luxuosa edição da Raman
Entretenimentos que está sendo distribuída em São Paulo pela Giostri Editora. O
livro é uma joia com muitas fotos e uma retrospectiva da carreira dessa grande
pequena mulher que foi Bibi Ferreira.
VIVA BIBI!
13/05/2020
Persona em Foco sobre a Bibi:
ResponderExcluirhttps://youtu.be/_tKI6moIdoI