A aula começa. Estou
precisando de nota nessa matéria. A professora Cecília vai apresentar um tema
para redação. Seus temas são sempre muito complexos e muitas vezes perdemos
nota pelo fato de não saber muito sobre o tema. A forma e o português são
importantes, mas o conteúdo tem peso ainda maior na nota.
A professora abre seu
diário de classe e indica:
- O tema de hoje é “Elis
e Abujamra”.
Em um primeiro
momento eu vibro, afinal tenho conhecimento bastante grande sobre Elis Regina e
até que razoável sobre o diretor teatral Antônio Abujamra, mas o que um tem a
ver com o outro? Ao que eu saiba eles nunca sequer se encontraram.
- Vocês têm o tempo
da aula (50 minutos) para desenvolver a redação.
Corrida contra o
tempo. Resolvi começar escrevendo separadamente sobre cada um e ao final eu junto.
Elis foi fácil. Sei
de cor até os dias em que ela nasceu (17) e morreu (19), meses e anos nem se
fala (março de 1945) e (janeiro de 1982). Começo a escrever desenfreadamente
sobre sua vida desde os tempos do Clube do Guri em Porto Alegre até o
fatídico dia em que faleceu, passando pela carreira, pelos shows, pelos discos,
pelos companheiros e pelos filhos. Em menos de dez minutos eu já tenho o perfil
de Elis rascunhado.
Parto para Abujamra. Sei
um pouco sobre sua carreira: o estágio na Europa no início de carreira, o Grupo
Decisão, Os Fodidos Privilegiados, o trabalho com a companhia
de Nicette Bruno e Paulo Goulart... (Puxa! Não há nenhum livro com sua
biografia!) ... Recorro ao Google: Nasceu em Ourinhos em 15/09/1932 e morreu em
São Paulo enquanto dormia em 28/04/2015. Fez muito teatro e muita televisão e “era conhecido por sua irreverência, suas
encenações e por seu humor ácido e crítico em relação aos tabus sociais” .
Pouco, mas o suficiente para desenvolver a segunda parte da redação que é a
relação dele com Elis.
Tudo isso está
rascunhado, preciso passar a limpo. Já passaram mais 15 minutos. Tenho meia
hora para completar o trabalho.
Vasculho minha
mochila e vejo que não tenho papel almaço para o trabalho final. Começo a ficar
inquieto:
- Alguém tem papel
para me ceder?
O Edu, colega de
classe, vem em meu socorro e me oferece umas folhas muito amassadas que parecem
aquele papel em que se embrulhava o filão de pão antigamente. É o que eu tenho
para o momento.
Pego a primeira folha
e escrevo o título: “Elis e Cesar”!!! Caio na real, não era Cesar.
Descarto a folha e pego desesperadamente outra na qual escrevo corretamente “Elis
e Abu”. Resolvi utilizar o apelido Abu, como o diretor era carinhosamente tratado
pela classe teatral.
A professora Cecília
já começa a ameaçar:
- Faltam 15 minutos.
Eu não vou dar tolerância. Pois dou aula em outra classe logo em seguida.
Pavor!!! O que a Elis
pode ter em comum com o Abu?? Aí me surge uma ideia verdadeiramente luminosa:
- Eureka! Elis foi
dirigida em seus shows, entre outros, por Myrian Muniz (Falso Brilhante)
e Ademar Guerra (Saudade do Brasil), por que não poderia ser dirigida
por Abu no show imaginário que faz parte da minha redação?
Achada a solução começo
a pensar como seriam os ensaios e a relação entre essas duas figuras
irreverentes, com humor ácido e muito críticas. Some-se a isso a impetuosidade
de ambos. Foi me dando uma comichão e acho que vou arrasar com essa redação, já
pensando no título que terá o show.
Vamos lá, mãos à obra!! O título ... o título ...
Sobressalto! Acordo! Que pena, foi tudo um sonho...
Em tempo: Esse sonho ocorreu na madrugada do dia 31 de agosto de 2021, nele a professora era minha amiga Cecília Carmen Jacintho Andrade (trabalhamos na mesma época no Instituto de Tecnologia Mauá) e meu colega de classe era o Edu Brisa, amigo e companheiro da área teatral.
E não é que agora eu
só fico pensando como seria esse show da Elis dirigido pelo Abujamra!!
E qual seu título?
Alguém tem uma sugestão??
31/08/2021