Há algumas matérias
atrás (Coração de Campanha) usei como epígrafe um aforismo de
Schopenhauer que se encaixa de tal maneira ao presente espetáculo que não posso
deixar de repeti-lo:
“Durante um áspero
dia invernal, apertam-se os porcos espinhos de uma manada uns contra os outros
para se proporcionarem mútuo calor. Mas, ao fazê-lo ferir-se-ão reciprocamente
com seus espinhos, de modo que terão de separar-se. De novo obrigados a
ajuntar-se, tornarão a machucar-se e a distanciar-se. Essas alternativas de
aproximação e distanciamento durarão até que lhes seja dado encontrar uma
distância média em que ambos os males ficam mitigados”
Essa frase poderia
servir de sinopse para o espetáculo Alaska de autoria da dramaturga
norte americana Cindy Lou Johnson com direção de Rodrigo Pandolfo em cartaz no Centro
Cultural São Paulo, onde os porcos espinhos seriam uma metáfora de Rosannah
e Henry, os protagonistas da trama.
O belo, imenso, mas
também ingrato Espaço Ademar Guerra poucas vezes foi tão bem utilizado.
A encenação de Pandolfo é visualmente muito bonita utilizando as paredes
inclinadas e o fundo do local preenchidos com a cenografia de Miguel Pinto
Guimarães e a criativa iluminação de Wagner Antonio. Os conhecidos problemas de
acústica do espaço foram em parte solucionados com as vozes do elenco
microfonadas.
Destaque para a bela
e elegante participação de Gabs Ambrózia e Canafístula Lima na contrarregragem
performática.
E é nesse ambiente cheio
de neve que Louise D’Tuani e Rodrigo Pandolfo interpretam com muita energia
esses dois seres carentes que se aproximam e se distanciam até se harmonizarem
no belo final do espetáculo.
Alaska cumpre curta temporada de apenas 12 apresentações que termina no próximo domingo, 27. Os ingressos gratuitos são distribuídos uma hora antes do início do espetáculo.
26/03/2022
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