sexta-feira, 29 de abril de 2022

HENRIQUE IV

 


Foto de Arnaldo D'Ávila

Reveste-se sempre de grande expectativa a estreia de uma nova montagem de um encenador do porte de Gabriel Villela.

O sugestivo pano de boca que recepciona o público cobrindo o imenso palco do Teatro Antunes Filho no SESC Vila Mariana aguça ainda mais essa expectativa do espectador.

Toca o terceiro sinal, sobe o pano e admiramos o belo cenário de J.C. Serroni e os atores em posição estática.

Tem início o espetáculo com falas dos camareiros daquele que se acha “rei” (Artur Volpi e Breno Manfredini, brilhantes) explicando que o público irá assistir a uma representação circense de Henrique IV, não de Shakespeare, mas de Pirandello. Esse clima de ironia, humor e dualidades irá permanecer durante todo o espetáculo. Em seguida o elenco prepara-se para literalmente vestir os seus personagens.

Tudo ou “quase” tudo é perfeito na criativa encenação orquestrada por Villela: o já citado cenário de Serroni; os coloridos figurinos de autoria do encenador; o perfeito visagismo realizado por Claudinei Hidalgo; a iluminação assinada por Caetano Vilela; a maravilhosa direção musical pela não mais que excelente Babaya Moraes e por Jonatan Harold que também participa da peça acompanhando instrumentalmente o canto do elenco e; finalmente; por um elenco de sonhos liderado por Chico Carvalho e Rosana Stavis.

Foto de João Caldas

E por que, com todas essas marcantes qualidades, a peça se torna cansativa? O senhor Pirandello que me perdoe, mas o problema está no texto que, mesmo com os cortes efetuados pelo tradutor Claudio Fontana e pelo diretor, é repetitivo e verborrágico. Para sinopse tão simples (“Pirandello explora os limites entre a loucura e a lucidez a partir da estória de um homem que, após uma queda do cavalo e uma pancada na cabeça, vive (ou finge viver) o personagem que representava em uma festa de carnaval”) o dramaturgo cria uma série de situações complexas com solilóquios imensos do protagonista, dos quais, por sinal, Chico Carvalho, se sai brilhantemente.

Foto de João Caldas

Villela astuciosamente controla o ritmo da encenação introduzindo canções populares e díspares como aquelas de Nino Rota, do Supertramp, de Nancy Sinatra (momento delicioso onde Stavis interpreta Bang Bang), chegando até à melosa I Started a Joke interpretada divinamente por Artur Volpi (que já havia interpretado The Logical Song no início da peça). Se por um lado a introdução das músicas dinamiza o ritmo do espetáculo, por outro acaba o alongando ainda mais, chegando a 1h40 de duração.

É claro que, apesar desses senões puramente pessoais, recomendo vivamente mais essa direção de Villela, belíssima mais na forma do que no conteúdo. 

Henrique IV está em cartaz no Teatro Antunes Filho (SESC Vila Mariana) de 28/04/22 a 05/06/22 de quinta a sábado às 21h e domingos às 18h. 

29/04/2022

Um comentário:

  1. Em se tratando de Gabriel Vilella, como você mesmo disse, não pode passar despercebido de quem preza o requinte da melhor carpintaria teatral.

    ResponderExcluir