Reveste-se sempre de
grande expectativa a estreia de uma nova montagem de um encenador do porte de
Gabriel Villela.
O sugestivo pano de
boca que recepciona o público cobrindo o imenso palco do Teatro Antunes Filho
no SESC Vila Mariana aguça ainda mais essa expectativa do espectador.
Toca o terceiro
sinal, sobe o pano e admiramos o belo cenário de J.C. Serroni e os atores em
posição estática.
Tem início o
espetáculo com falas dos camareiros daquele que se acha “rei” (Artur Volpi e
Breno Manfredini, brilhantes) explicando que o público irá assistir a uma
representação circense de Henrique IV, não de Shakespeare, mas de Pirandello.
Esse clima de ironia, humor e dualidades irá permanecer durante todo o
espetáculo. Em seguida o elenco prepara-se para literalmente vestir os seus
personagens.
Tudo ou “quase” tudo
é perfeito na criativa encenação orquestrada por Villela: o já citado cenário
de Serroni; os coloridos figurinos de autoria do encenador; o perfeito
visagismo realizado por Claudinei Hidalgo; a iluminação assinada por Caetano
Vilela; a maravilhosa direção musical pela não mais que excelente Babaya Moraes
e por Jonatan Harold que também participa da peça acompanhando
instrumentalmente o canto do elenco e; finalmente; por um elenco de sonhos
liderado por Chico Carvalho e Rosana Stavis.
E por que, com todas
essas marcantes qualidades, a peça se torna cansativa? O senhor Pirandello que
me perdoe, mas o problema está no texto que, mesmo com os cortes efetuados pelo
tradutor Claudio Fontana e pelo diretor, é repetitivo e verborrágico. Para
sinopse tão simples (“Pirandello explora os limites entre a loucura e a
lucidez a partir da estória de um homem que, após uma queda do cavalo e uma
pancada na cabeça, vive (ou finge viver) o personagem que representava em uma
festa de carnaval”) o dramaturgo cria uma série de situações complexas com
solilóquios imensos do protagonista, dos quais, por sinal, Chico Carvalho, se
sai brilhantemente.
Villela
astuciosamente controla o ritmo da encenação introduzindo canções populares e
díspares como aquelas de Nino Rota, do Supertramp, de Nancy Sinatra
(momento delicioso onde Stavis interpreta Bang Bang), chegando até à
melosa I Started a Joke interpretada divinamente por Artur Volpi (que já
havia interpretado The Logical Song no início da peça). Se por um
lado a introdução das músicas dinamiza o ritmo do espetáculo, por outro acaba o
alongando ainda mais, chegando a 1h40 de duração.
É claro que, apesar desses senões puramente pessoais, recomendo vivamente mais essa direção de Villela, belíssima mais na forma do que no conteúdo.
Henrique IV está em cartaz no Teatro Antunes Filho (SESC Vila Mariana) de 28/04/22 a 05/06/22 de quinta a sábado às 21h e domingos às 18h.
29/04/2022
Em se tratando de Gabriel Vilella, como você mesmo disse, não pode passar despercebido de quem preza o requinte da melhor carpintaria teatral.
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