segunda-feira, 11 de abril de 2022

MORTE E VIDA SEVERINA

 

1 - HISTÓRICO

Pouca gente sabe que o poema Morte e Vida Severina escrito em 1955 pelo poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999) foi montado pela primeira vez em palcos paulistanos em 1960 pelo Teatro Experimental Cacilda Becker com direção de Clemente Portela, composição cênica de Flavio Imperio, música de Willy Corrêa de Oliveira e tendo no elenco, Walmor Chagas, Solano Ribeiro e Ruthneia de Moraes, entre outros. Apesar de tantos nomes famosos o espetáculo foi um fracasso permanecendo pouco tempo em cartaz.

No ano de 1965 um jovem de 21 anos chamado Francisco Buarque de Holanda compôs canções para parte do poema e outro jovem, Silnei Siqueira, realizou montagem histórica com um grupo de universitários da Universidade Católica. O nome TUCA batizou o grupo e o teatro recém inaugurado. O memorável espetáculo foi um grande momento do nosso teatro e ganhou em 1966 o primeiro prêmio do Festival de Teatro de Nancy na França, sendo considerado o melhor teatro universitário do mundo. Do numeroso elenco amador, a única pessoa que seguiu carreira teatral foi Ana Lucia Torre que interpretava com muito vigor a mulher da janela.

Silnei Siqueira voltou a dirigir o poema em 1969 tendo Paulo Autran e Carlos Miranda nos papeis principais e em 1996 com o grupo TAPA contando mais uma vez com Ana Lucia Torre no elenco. Apesar da excelência das equipes, essas montagens não atingiram o brilho e a repercussão daquela do TUCA.

Segundo a produtora Célia Forte houve também uma montagem no Teatro Markanti em 1977 à qual eu desconheço.

57 anos depois as belas palavras de João Cabral de Melo Neto voltam a ser ouvidas no mesmo TUCA agora sob a direção de Elias Andreato, realizando um velho sonho da guerreira Célia Forte. 

2. A MONTAGEM ATUAL

Revisitar textos que tiveram montagens clássicas é sempre complicado, principalmente para aqueles que assistiram a elas. Por diversas razões assisti à montagem do TUCA uma dezena de vezes em 1965 e apesar de tantos anos passados o texto e as músicas ainda fazem parte da minha memória. Por essa razão confesso que me dirigi ao Tuca um pouco temeroso.

Que magnífica surpresa! Quanta emoção! O espetáculo é belíssimo, atual e capaz de levar até as lágrimas o mais durão dos espectadores.

Desde o cenário do saudoso Elifas Andreato lindamente iluminado pela luz criada pelo diretor e por Júnior  Docini, passando pela excelente direção musical de Marco França (arranjos originais para as canções de Chico Buarque e excelente integração entre os ótimos músicos e os intérpretes) e pelos figurinos de Fabio Namatame, tudo funciona nessa montagem, uma das mais significativas realizações de Elias Andreato como diretor.

Isso sem falar do elenco, em sua maioria migrante de alguma parte do país. Fica difícil destacar esse ou aquele intérprete, pois todos estão ótimos como atrizes/atores e como cantoras/cantores, mas é preciso lembrar de momentos marcantes do poema e do espetáculo, como o da mulher da janela (Badu Morais, maravilhosa, aplaudida em cena aberta), do funeral (presença marcante e forte de Jana Figarella), dos coveiros (revelando João Pedro Attuy e Raphael Mota em cena que tem até certo humor) e das ciganas (atenção peço senhores, para o vigor e a energia de Patrícia Gasppar e Andréa Bassitt nesta cena). É linda também a participação de Beatriz Amado cantando com uma bela voz e tocando flauta. Finalmente, todos os louvores para Dudu Galvão, intérprete de Severino, realizando muito bem as nuances da personagem ao se defrontar com a miséria, a fome e a morte e com a alegria e a esperança da vida, mesmo que seja uma vida severina.

Na cena final, onde se canta o nascimento de uma nova vida, é impossível conter aquela emoção a duras penas reprimida durante todo o espetáculo. Nesse momento, não deu mais pra segurar: EXPLODE CORAÇÃO! (obrigado, Gonzaguinha) e as lágrimas rolaram.

O belíssimo e, infelizmente, ainda atual poema de João Cabral de Melo Neto está dignamente representado nesse excelente espetáculo de Elias Andreato no mesmo palco onde estreou há 57 anos atrás.

A tentativa de evitar o excesso de adjetivação vai por água abaixo quando a emoção é muito forte. Que me desculpem as leitoras e os leitores desta matéria por esses excessos. 

MORTE E VIDA SEVERINA cumpre temporada no TUCA de 15/04 a 26/06 com sessões às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 19h.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

 

11/04/2022

Um comentário:

  1. Fui um dos produtores da montagem do Teatro Markanti do qual eu era sócio. O espetáculo foi dirigido por Eduardo Curado.

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