Depois de uma viagem de
metrô e ônibus, atravessei emocionado, debaixo de um céu cinzento, o portão que
tem a inscrição “Cartoucherie”. Vários galpões compõem o complexo
cultural, que também é ocupado por outros grupos de teatro. O Théâtre du
Soleil ocupa dois desses galpões. No primeiro está a recepção, o local para
escolha dos assentos, o restaurante e a loja que vende os produtos do grupo. No
segundo estão a sala de representação e os camarins.
Assisti ao espetáculo NOTRE VIE DANS L’ART escrito e dirigido pelo norte-americano Richard Nelson, traduzida por Ariane Mnouchkine e interpretado pelo elenco do Théâtre du Soleil. A peça trata das conversações entre os atores do Teatro de Arte de Moscou, durante sua turnê em Chicago, no ano de 1923.
Voltando aos edifícios,
almocei no restaurante do galpão 1, que servia comida de origem russa, de
acordo com o tema da peça. Quem me serviu foi um simpático armênio que
posteriormente constatei ser um dos atores principais do elenco.
E eis que chega a hora de ir
para a sala de espetáculos no galpão 2. A sala é formada por duas plateias
laterais, uma de frente para a outra, e um palco retangular no centro, à
semelhança da disposição cênica apresentada no espetáculo Les Éphémères.
Em volta de uma mesa, um
grupo de artistas do Teatro de Arte de Moscou discute sobre arte e
política. Richard Boleslavski, antigo ator do grupo, ora exilado no oeste dos
EUA, também está com eles.
A peça começa e termina com
a leitura de duas cartas supostamente escritas por Stanislavski, uma em 1936 e
a outra em 1938, dirigidas a Stalin, enaltecendo o governo Stalinista e a sua
atenção pela arte no país. Quem lê as cartas é o personagem Richard e é claro o
conteúdo crítico das mesmas, uma vez que Stalin não morria de amores e perseguia
toda e qualquer arte que não se inscrevesse no realismo social ditado por seu
governo.
A peça consta de um prólogo
(a carta de 1936), seis cenas que se passam praticamente num mesmo dia de 1923
e um epílogo (a carta de 1938).
As cenas têm curvas
dramáticas parecidas, momentos de tensão alternados com outros descontraídos. A
interpretação dos atores é impecável e, apesar do diretor/autor declarar que
teve total liberdade para criar o espetáculo, é bastante visível a marca
Soleil/Mnouchkine, tanto na interpretação, como na manipulação dos objetos.
Outro elemento característico do grupo são as expressões marcantes daqueles que
não estão falando, o que mostra o quanto eles estão verdadeiramente dentro da
ação.
A trilha sonora é discreta e
neste caso não conta com a participação de Gean-Jacqes Lemêtre, foi composta
por
Apesar de não ter entendido
todo o texto (fala corrida em francês), acredito que acompanhei bem a peça e
compreendi o espírito da mesma.
Por toda a estética da
encenação, penso que tanto Richard Nelson, os atores do Soleil e Ariane
Mnouchkine tenham ficado satisfeitos com o resultado.
E assim se realizou um dos
grandes sonhos da minha vida...
Esta matéria foi transcriada de meu diário de bordo da viagem com a ajuda inestimável de meu amigo Arnaldo D’Ávila.
A selfie do sonhador |
02/05/2024
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