“Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Em primeiro lugar louve-se a iniciativa de Darson Ribeiro de trazer de volta o “Teatro Jaraguá” agora rebatizado com a inclusão do “D” herdado do nome do teatro no Itaim que Darson perdeu para a especulação imobiliária. Esse belo espaço situado dentro do Hotel Jaraguá passa a chamar-se “Teatro -D- Jaraguá”, com o palco ampliado e a plateia remodelada. O charme se completa com a reabertura do “Bar do Clóvis” no lobby do hotel.
A escolha para a reabertura do teatro não poderia ter sido mais acertada: um recital de Maria Fernanda Cândido trazendo textos de Clarice Lispector permeados com músicas de Rachmaninoff e Villa Lobos interpretadas por Sonia Rubinsky. Verdadeiro biscoito fino.
Ao abrir a cortina, Maria Fernanda surge "diáfana" vestindo um branco longo concebido por Fábio Namatame, com movimentos suaves desenhados por Luciana Hoppe, sob a luz mágica de Caetano Villela. A partir daí ela vai dizendo os belos textos de Clarice Lispector escolhidos por Catarina Brandão para compor a dramaturgia do espetáculo. Não há pontos mortos, nem momentos tediosos nesse trabalho harmoniosamente dirigido por Gonzaga Pedrosa.
Clarice Lispector, tantas vezes considerada hermética aqui surge límpida e acessível em função dos textos escolhidos e da admirável interpretação de Maria Fernanda Cândido.
Talvez por compromissos da atriz a temporada está prevista para terminar no próximo fim de semana (dia 09/02), por isso não perca tempo e garanta seu ingresso. Não é sempre que temos a chance de degustar vinho tão saboroso.
Sessões de quinta a sábado às 20h e domingos às 19h
01/02/2025