Ninguém vai ao teatro para escapar de si mesmo, mas para reestabelecer contato com o mistério que todos nós temos.
(Alejandro
Jodorowsky)
Passei a pesquisar a vida e a obra de
Alejandro Jodorowsky (1929) após assistir a seus dois filmes autobiográficos: “A
Dança da Realidade” (2013) e “Poesia Sem Fim” (2016), este último uma joia rara,
verdadeira obra-prima.
Seus textos para teatro são pouco
conhecidos no Brasil e suas encenações são raras. Ao que eu saiba até o momento
sua única peça montada em São Paulo foi “As Três Velhas” em 2008, com direção
bastante equivocada e exagerada da saudosa Maria Alice Vergueiro.
Em bom momento Reginaldo Nascimento
escolheu essa peça para integrar o currículo de seu Teatro Kaus Cia.
Experimental, trilhando estética apresentada em seus últimos trabalhos, com
exceção de “Chuva de Anjos”.
Todos os traumas carregados pelo autor
desde uma infância problemática estão presentes neste “melodrama grotesco”,
como ele o denominou.
Sem abrir mão do grotesco e do
escatológico próprios do texto, o diretor Reginaldo Nascimento realiza uma
encenação esteticamente bonita, dando oportunidade a três excelentes
interpretações das atrizes.
Só dando um exemplo da diferença entre
as montagens de Maria Alice e de Reginaldo cito a cena onde a personagem Meliza
recebe o “desconhecido” com seu enorme falo. A discrição e a elegância de
Reginaldo se contrapõem ao exagero de Maria Alice.
Some-se ao resultado desta boa
encenação o cenário e a trilha sonora do próprio Reginaldo, os figurinos e
adereços assinados por Telumi Hellen e o visagismo sofisticado e carregado de
Louise Helène. É digna de nota, a fluente tradução do texto, realizada por Aimar Labaki.
Todos esses recursos de produção
poderiam se perder com um mau elenco e nesse quesito “tudo que reluz é ouro”. Tânia
Granussi demonstra vitalidade e certo humor na interpretação da robusta Grazia,
Vera Monteiro vive a criada Garga e é a mais ponderada – se é que isso é
possível! - das três personagens. As reações de Garga às loucuras das duas
irmãs são notáveis. Finalmente Amália Pereira que interpreta Meliza e
interfere como o “papai” com sua voz potente e movimentação corporal vigorosa
e surpreendente. Amália concentra em si todo o universo caótico de Jodorowsky,
muito bem acompanhada por Tânia e Vera.
Mesmo escancarando toda a
perversidade, o horror e o “apodrecimento” daquele mundo decadente, ou talvez
por isso mesmo, AS TRÊS VELHAS é importante para ser visto.
A partir de 25/09 e até 05/10, AS TRÊS
VELHAS estará em cartaz no Teatro Alfredo Mesquita de quinta a sábado às 20h e
domingos às 19h.
NÃO DEIXE DE VER!
15/09/2025

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