Uma menina de 16 anos é violentada por
dois colegas da escola em uma cidade do interior. O fato torna-se público e as
reações das pessoas em relação à menina são positivas (em geral das mulheres)
ou negativas (em geral dos homens). Carlos Canhameiro abriga esse microcosmo em
um salão de beleza onde o elenco representando funcionários e clientes
emprestam suas vozes para falar os depoimentos recolhidos por Canhameiro na
cidade onde o fato ocorreu. Uma amostra da sociedade machista brasileira.
A dramaturgia do autor é completada
por cenas ficcionais onde aparecem a menina, os pais e o sujeito que a
engravidou.
O caso teve consequências trágicas com
o assassinato da criança pela própria mãe.
Se a dramaturgia é bastante
interessante, intercalando falas reais com cenas ficcionais, a tradução cênica
assinada pelo próprio dramaturgo é digna dos maiores aplausos.
O cenário criado por Canhameiro e José
Valdir Albuquerque reproduz em detalhes o “Suely Hair e Unha’s – UNISSEX”,
salão de beleza onde são reproduzidos os depoimentos recolhidos (imagens
projetadas mostram fotos e profissões de quem deu o depoimento) e na parte
superior são apresentadas as cenas de ficção. Essa dinâmica cria um vínculo com
o público que não é quebrado durante as quase duas horas da peça.
Um elenco coeso se reveza com muita
versatilidade nas várias personagens criadas.
Marilene Grama interpreta a menina,
depois moça, com muita garra; Daniel Gonzalez mostra energia como o pai, Luiz
Bertazzo vai de cliente do salão a uma vizinha fofoqueira com muito humor e
Yantó e um assombro com sua bela voz pontuando as canções apresentadas.
Nilcéia Valente merece destaque com
sua classe e voz límpida tanto como a mãe como cliente do salão e, por último,
Fábia Mirassos, atriz cada vez mais presente em nossos palcos que vai desde a
cocote Suely, dona do salão à mãe, em cenas bastante dramáticas.
Reforçando o realismo do cenário estão
em cena duas profissionais da estética da beleza, uma manicure (Maria França) e
uma cabelereira/maquiadora (Rosa De Carlos).
Pela originalidade e criatividade
tanto na dramaturgia como na encenação, vejo “Reparação” como um marco na
carreira de Carlos Canhameiro.
O espetáculo fica em cartaz no CCSP
até 21/09 e desloca-se para o Teatro de Arena Eugênio Kusnet a partir de 25/09
até 12/10 de quinta a sábado às 19h e aos domingos às 18h.
Fica a curiosidade de como ele vai
caber no Teatro de Arena!!
NÃO DEIXE DE VER.
20/09/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário