terça-feira, 30 de setembro de 2025

JOB


Job é exemplo de peça bem escrita: personagens bem definidos e bem construídos, diálogos ágeis e cortantes, trama bem urdida revelando aos poucos as razões de cada personagem ocasionando reviravoltas que mantém o público em constante atenção e surpresa até uma revelação final, quase sempre bombástica, que leva os espectadores à catarse final que termina em aplausos calorosos. Os manuais de dramaturgia, quase sempre de origem norte-americana, costumam dar o caminho para se produzir a assim chamada “playwriting” bem sucedida, mas não há receita para quem não tem imaginação nem talento.

Conhecimento dos trâmites das redes sociais, imaginação e talento não faltaram para o jovem (30 anos) dramaturgo norte-americano Max Wolf Friedlich ao escrever essa trama envolvendo uma profissional da internet que foi afastada da empresa depois de ter um surto ao filtrar conteúdos agressivos e/ou pornográficos da rede social e um terapeuta responsável por elaborar um laudo que permita ou não que ela volte ao trabalho. A trama respira perversidade e há um clima parecido com as primeiras peças de Edward Albee.

A peça inicia com uma cena muito agressiva que se torna clara ao retornar pouco antes das luzes se apagarem anunciando o final da apresentação. Entre essas duas cenas acontece o duelo de noventa minutos entre as duas personagens.

O sucesso desse tipo de trabalho depende do talento e da garra dos intérpretes.

Edson Fieschi transita entre a frieza do terapeuta e o assombro do homem quando acuado.

Bianca Bin é um furor no palco desde a primeira cena; despindo-se de sua beleza natural ela se entrega totalmente à personagem da neurótica e desleixada Jane. Sua interpretação se inscreve nas melhores do ano.

      Fernando Philbert foca a direção nos dois intérpretes sem deixar de lado os recursos cenográficos (Natália Lana), os figurinos discretos (Ronald Tixeira) e a iluminação preciosa de Vilmar Olos que ilustra os pensamentos dos personagens quando estes se afastam do diálogo para refletir sobre o que está ocorrendo. A trilha sonora soturna de Marcelo Alonso Neves também colabora para o tenso clima da peça.

 Repito aqui um termo não muito elegante que usei ao sair da peça: Fiquei CHAPADO!!

        JOB esteve em cartaz no Teatro Vivo até o último domingo, dia 28/09 e deve estrear no Rio de Janeiro em breve.

        A peça já saiu de cartaz, mas eu não poderia deixar de registrar aqui os méritos da mesma e como ela me deixou CHAPADO!

        30/09/2025


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