Job é exemplo de peça bem escrita:
personagens bem definidos e bem construídos, diálogos ágeis e cortantes, trama
bem urdida revelando aos poucos as razões de cada personagem ocasionando
reviravoltas que mantém o público em constante atenção e surpresa até uma
revelação final, quase sempre bombástica, que leva os espectadores à catarse
final que termina em aplausos calorosos. Os manuais de dramaturgia, quase
sempre de origem norte-americana, costumam dar o caminho para se produzir a assim
chamada “playwriting” bem sucedida, mas não há receita para quem não tem
imaginação nem talento.
Conhecimento dos trâmites das redes
sociais, imaginação e talento não faltaram para o jovem (30 anos) dramaturgo
norte-americano Max Wolf Friedlich ao escrever essa trama envolvendo uma
profissional da internet que foi afastada da empresa depois de ter um surto ao
filtrar conteúdos agressivos e/ou pornográficos da rede social e um terapeuta
responsável por elaborar um laudo que permita ou não que ela volte ao trabalho.
A trama respira perversidade e há um clima parecido com as primeiras peças de
Edward Albee.
A peça inicia com uma cena muito
agressiva que se torna clara ao retornar pouco antes das luzes se apagarem
anunciando o final da apresentação. Entre essas duas cenas acontece o duelo de
noventa minutos entre as duas personagens.
O sucesso desse tipo de trabalho
depende do talento e da garra dos intérpretes.
Edson Fieschi transita entre a frieza
do terapeuta e o assombro do homem quando acuado.
Bianca Bin é um furor no palco desde a
primeira cena; despindo-se de sua beleza natural ela se entrega totalmente à
personagem da neurótica e desleixada Jane. Sua interpretação se inscreve nas
melhores do ano.
Fernando
Philbert foca a direção nos dois intérpretes sem deixar de lado os recursos
cenográficos (Natália Lana), os figurinos discretos (Ronald Tixeira) e a
iluminação preciosa de Vilmar Olos que ilustra os pensamentos dos personagens quando
estes se afastam do diálogo para refletir sobre o que está ocorrendo. A trilha
sonora soturna de Marcelo Alonso Neves também colabora para o tenso clima da
peça.
Repito aqui um termo não muito elegante que usei ao sair da peça: Fiquei CHAPADO!!
JOB esteve em cartaz no Teatro Vivo até
o último domingo, dia 28/09 e deve estrear no Rio de Janeiro em breve.
A peça já saiu de cartaz, mas eu não poderia deixar de registrar aqui os méritos da mesma e como ela me deixou CHAPADO!
30/09/2025
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