sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FEDERICO, GIULIETTA E AS DATAS.


 

     Federico Fellini nasceu em Rimini no dia 20 de janeiro de 1920, Giulietta Masina nasceu em Roma 11 meses depois, no dia 22 de fevereiro de 1921.
 
 

     Casaram-se bastante jovens no dia 30 de outubro de 1943 e permaneceram juntos completando 50 anos de casados no dia 30 de outubro de 1993.
 
 
     Fellini morria no dia seguinte (31 de outubro de 1993) e Giulietta conseguiu viver neste mundo sem seu amado Federico apenas mais quatro meses e 23 dias; partiu em 23 de março de 1994.
 
 

     No próximo dia 30 o genial casal completaria 70 anos de casados e no dia 31 vai fazer 20 anos que Fellini nos deixou. Minha homenagem emocionada a esse casal que tantas emoções nos deu e ainda nos dá por meio dos seus filmes eternos. Eles se foram, mas Gelsomina, Cabiria e tantas outras personagens estarão conosco para sempre.

 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

4º FESTIVAL DE TEATRO DE RIBEIRÃO PRETO



 



     No período de 01 a 14 de novembro acontece o 4º Festival de Teatro de Ribeirão Preto composto de uma Mostra Nacional e uma Mostra Local Panorama 016, sendo esta última reservada para espetáculos realizados por grupos da cidade. O Festival não tem caráter competitivo e tem como objetivo geral a divulgação da cultura por meio do teatro. A realização é uma parceria entre a Secretaria Municipal da Cultura e o Movimento Teatreiros RP.




Os curadores

 
 

 
 

 
     A curadoria do Festival foi realizada por Paula Klein, por Jefferson Zanchi e por mim. No período entre 30/09 e 04/10 avaliamos cerca de 150 trabalhos por meio de vídeos enviados pelos proponentes, da análise dos dados contidos nas fichas de inscrição e, quando necessário, da leitura do texto do espetáculo.
 
A equipe de trabalho
     Teatro é a arte do efêmero, do aqui e agora, do ator na presença do espectador e da dinâmica criada nessa relação. Tudo isso se perde num vídeo que pode, além disso, ter problemas de gravação (imagem, som e ângulo em que o espetáculo foi gravado). Cientes dessas limitações realizamos o trabalho pré-aprovando numa primeira fase 32 espetáculos para a Mostra Nacional, num segundo exame mais detalhado chegamos aos oito projetos aprovados (SIMBÁ de Uberlâdia; MARCELO, MARMELO, MARTELO de Rio Preto; LA SVERGOGNATA de Belo Horizonte; SOBRE ANJOS E GRILOS de Porto Alegre; DANTON.5 de São Paulo; DOM QUIXOTE DELE MESMO de Ribeirão Preto: CABEÇA DE PAPELÃO de São Paulo e LIÇÕES DE MOTIM de Goiânia) e aos quatro suplentes (BARRELA de Ribeirão Preto; AS ROSAS DO JARDIM DE ZULA de Belo Horizonte; O RIO de São Paulo e SALAMALEQUE de São Paulo).
     Para a Mostra Panorama 016 foram analisadas as 13 encenações inscritas tendo sido selecionadas oito (VIAJANTES; ANTES DA BRANCA FLOR; O JOVEM TEIMOSO; NINGUÉM TAÍ; ALEXANDRE ENTRE XIQUEXIQUES E MANDACARUS; A.B.ISMO  e (OUTRAS) HISTÒRIAS REAIS).
Visita à Secretaria da Cultura
     A curadoria contou com forte apoio logístico de vários integrantes da Secretaria da Cultura assim como de uma representante dos Teatreiros.

     No último dia houve um encontro entre membros de grupos de teatro da cidade, os curadores e o pessoal da Secretaria da Cultura. Num bate papo bastante franco e honesto discutiu-se sobre os espetáculos de Ribeirão Preto inscritos no Festival e sobre as dificuldades em se fazer teatro seja em Ribeirão Preto, seja em qualquer outro lugar deste país tão alheio às questões culturais.
     Choppinho no Pinguim após os trabalhos, porque ninguém é de ferro!
 
     Agora resta esperar que os espetáculos selecionados cumpram aquilo prometido nos vídeos e que o Festival seja um grande sucesso.
 
 

 

domingo, 13 de outubro de 2013

CANASTRÕES – TEATRO NO TEATRO



     Coincidência ou não seis dos bons espetáculos que estiveram em cartaz na cidade neste atraente segundo semestre tratam do assunto teatro. São eles:
     - Eu Não Dava Praquilo – Homenagem à grande Myrian Muniz com relatos sobre sua vida e seus trabalhos no teatro.
     - Azul Resplendor – Peça peruana que mostra os bastidores dos ensaios de uma peça onde uma veterana atriz fará sua volta aos palcos.
     - Jacinta – A deliciosa peça de Newton Moreno conta os percalços da pior atriz do mundo em busca dos aplausos.
     - Cacilda!!! – Terceira investida do Teatro Oficina na vida e na obra da grande Cacilda Becker.
     - Os Gigantes da Montanha – A bela montagem desta peça inacabada de Pirandello pelo Grupo Galpão mostra uma companhia decadente de teatro e os limites entre realidade e ficção.
     - A Madrinha Embriagada – Até este despretensioso espetáculo mostra os meandros de uma produção musical.
     Para coroar as produções sobre esse tema entrou em cartaz na semana passada no Sesc Belenzinho  Canastrões.
     Escrita e dirigida pelo galego Moncho Rodriguez a peça faz uma homenagem ao ator Paulo Gracindo (1911 – 1995) e é interpretada por Gracindo Júnior e por seus filhos Gabriel e Pedro. A julgar por este brilhante trabalho chega-se a pensar que talento é uma coisa genética.
 
 Paulo Gracindo
     Num clima de magia próprio do bom teatro onde a imaginação do espectador alcança voos esplendorosos por meio das palavras e dos gestos dos atores assiste-se à trajetória dos três mambembes e seus canastrões (baús que carregam todo o imaginário acumulado pelos atores). Tudo por meio do sofisticado e lúdico texto de Moncho Rodriguez que nos remete a várias fases do teatro universal citando, entre outros, Shakespeare e Gil Vicente (este numa cena memorável de Pedro Gracindo).
 
 
     Sem querer fazer ligação com o sobrenome do trio, os três atores estão em estado de graça. Gracindo Júnior tem uma atuação memorável como o ator mais vivido que conhece todo o poder do teatro e da imaginação e seus dois filhos não deixam por menos realizando um trabalho que se aproxima de uma dança tal a beleza de seus gestuais; além disso, Pedro Gracindo toca vários instrumentos em cena.
     Para completar a magia os figurinos, o cenário e a iluminação são perfeitos; todos eles também de autoria do autor/diretor que assim acumula cinco funções na encenação.
     Os momentos em que os atores solicitam a imaginação do público são de rara emoção e dignos do melhor teatro.
 
 
     Em cartaz apenas até o dia 03 de novembro, Canastrões é um espetáculo que não pode deixar de ser visto por aqueles que acreditam na magia e na força do teatro.
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

TUDO SOBRE GALILEU... MENOS GALILEU.


               

 
     Esta é a última semana para se assistir a um dos mais surpreendentes espetáculos da temporada. Trata-se de Folias Galileu montado pelo grupo Folias.



 
 Nani de Oliveira
     O Folias teve duas perdas significativas: uma irreparável com a morte do dramaturgo e ator Reinaldo Maia em abril de 2009 e logo em seguida outra com o afastamento de Marco Antonio Rodrigues que dirigiu a maioria dos trabalhos do grupo. De lá para cá por obra de alguns abnegados que mantiveram o espaço, o Folias vinha apresentando espetáculos em busca de um caminho. Parece que o encontraram neste inventivo Folias Galileu que recria a trajetória do polêmico cientista italiano a partir daqueles que a coadjuvaram.
 
 
Gisele Valeri
 
     Andrea Sarti, sua mãe Dona Sarti, Ludovico, a filha Virginia, Federzoni e o cardeal Barberini, entre outros, nos fazem seus relatos por meio de monólogos ambientados em todos os recantos do espaço do Galpão do Folias (a sala principal é usada apenas no início e no fim). Cada “buraquinho” do teatro foi usado, inclusive a bilheteria, a rua e o boteco em frente que é responsável por um momento mágico da encenação.
 

Carlos Francisco
 
     Algumas cenas são memoráveis como as vividas por Carlos Francisco (um homem simples mostrando as possibilidades infinitas de se olhar para alguma coisa), por Nani de Oliveira (sempre uma presença poderosa) e em especial aquela criada por Gisele Valeri (Dona Sarti falando em italiano sobre a paura com o futuro de Andrea).
     A dramaturgia da peça criada pelo grupo e por Rafaela Penteado e Heloisa Cardoso é coesa e bem amarrada. A concepção cênica de Dagoberto Feliz é sinônima do sobrenome do diretor, criando cenas muito criativas como a do menino Andrea, a hilária protagonizada por Federzoni e o belo e emocionante final quando Andrea pega os Discorsi de Galileu e parte para atravessar a fronteira italiana com eles. O mundo vai tomar conhecimento dos descobrimentos do Mestre!


 
     Entendo Folias Galileu como o primeiro trabalho de fôlego da nova fase do Galpão do Folias e há muito pulmão nesse importante e necessário grupo paulistano.
Sábado 21h, Domingo 19h e Segunda 21h. Só neste fim de semana. Para não perder.

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BURACO D’ORÁCULO CONTA A SAGA DA MIGRAÇÃO



À procura de um lugar.
 
     Por razões diversas sempre ligadas à carência de necessidades básicas o migrante resolve abandonar seu lugar de origem, normalmente no caso do Brasil, situado em zonas rurais do Nordeste. Viaja em condições sub-humanas para as grandes cidades, onde é hostilizado pelos seus próprios pares que o consideram um concorrente (Mais um Zé?) e reprimido pelas autoridades tanto policiais como aquelas do assim chamado serviço social; alguns podem ter a chance de ser recebido por algum parente ou amigo que também vive em condições precárias. Arranja um subemprego, vai morar numa favela, passa pela tentação das drogas e da facilidade de ganhar dinheiro de forma ilícita, é despejado da favela e se tiver sorte vai viver num desses prédios desumanos e impessoais; com pouco menos de sorte se desloca para outra favela cada vez mais periférica ou ainda, volta para o centro da cidade para morar...na rua. De uma maneira ou de outra vai vivendo sua vida que nunca deixa de ser miserável, além de sentir uma grande melancolia por nunca ter podido voltar a rever os parentes e o torrão natal.
Edson Paulo, Lu Coelho, Adailton Alves
Lu Coelho, Selma Pavanelli

Heber Humberto: "Nem me fale!"

Caixa/Mala/Camarim
 
     O espetáculo Ser Tão Ser do grupo Buraco D’Oráculo dá conta dessa trajetória num conciso e bonito trabalho com uma hora de duração, perfeito para manter atento o público de uma peça de rua. Baseado em relatos de moradores da zona leste de São Paulo, o grupo criou coletivamente o espetáculo, que é dirigido por Adailton Alves. Tudo é mostrado com muita garra pelos cinco atores (com suas significativas e belas caixas/malas/camarins ambulantes) de maneira lúdica e econômica (o espetáculo não tem pontos mortos).
     Taiguara, o injustiçado cantor brasileiro, dizia em uma de suas canções que “só não sofreu quem não viu, não entendeu quem não quis”, o militante Buraco D’Oráculo termina seu espetáculo repetindo o refrão: “Se o povo soubesse o valor que tem/Não aguentava desaforo de ninguém". Ficam algumas perguntas que, absolutamente, não invalidam trabalhos como esse: quanto que ele vai contribuir para dar um final mais honroso para a saga descrita acima? Moradores de rua e público da periferia absorvem o recado dado? Se absorverem, o que vão fazer com ele?  Não é mole não, Seu Brecht!
 
 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

OS GIGANTES DA MONTANHA


O cenário de Gabriel Villela, Helvécio Izabel e Amanda Gomes.
 

     Um calor incomum para esta época do ano assolou São Paulo durante o dia do último sábado e a noite prometia ser quente e com lua cheia. Com muita expectativa me dirigi para o Parque da Independência para assistir ao novo trabalho do sempre bem vindo Grupo Galpão de Belo Horizonte. Escadaria repleta de gente e o palco iluminado e enriquecido com os adereços para o espetáculo. Músicas ditas bregas, ecoavam de um alto falante com som estridente. Num piscar de olhos um forte vento tomou conta do pedaço fazendo tremer os penduricalhos inventados por Gabriel Villela, obrigando os contrarregras a recolher parte deles. Perigo à vista: Chuva? Possibilidade de suspensão do espetáculo? O vento diminuiu, apesar de ainda tremular de maneira muito bonita as cortinas do cenário e às 20h30 com um prólogo de Teuda Bara teve início o esperado Os Gigantes da Montanha.
 Desta cidade restará apenas o vento que por ela perpassa                         (Bertolt Brecht)
 
 
     O dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) trabalhou cerca de oito anos nesta obra que permaneceu inacabada e cujo terceiro ato tem apenas um esboço ditado em seu leito de morte ao seu filho Stefano. A peça apresenta imensas dificuldades tanto cênicas como dramáticas e havia uma grande curiosidade sobre a maneira como Villela trabalharia essas dificuldades num espetáculo de rua.
 
 
     Com o auxílio do espírito do Galpão, o encenador conseguiu transformar o complexo e belo texto de Pirandello num divertido espetáculo popular, sem, no entanto, abdicar dos temas importantes tratados no original: teatro, magia, realidade e, principalmente, as dificuldades de fazer e comunicar arte para um mundo hostil e material. As cenas são ilustradas com músicas do cancioneiro popular italiano que se encaixam perfeitamente à trama; o melhor exemplo disso é a cena do suicídio da personagem Spizzi, onde ele canta Ciao, amore, ciao. Diga-se que a preparação vocal do elenco (Babaya)está perfeita .
     Evitando uma excessiva duração e também cenas de complexa tradução cênica, o diretor optou por usar o recurso de narrar alguns trechos da peça. Foi utilizada a ótima tradução de Beti Rabetti, a mesma usada em 1991 na encenação carioca de Moacyr Góes.
     Tive o privilégio de ver Cleyde Yáconis e Ziembinsky em 1969 numa equivocada montagem do italiano Federico Pietrabruna. Inês Peixoto e Eduardo Moreira são desta vez os intérpretes da Condessa Ilse e do mago Cotrone e brilham nos papéis. Todo o elenco está ótimo com destaque para Antonio Edson (um levíssimo Cromo) e Arildo Barros (Conde). Paulo André é responsável por bons momentos cômicos como o/a hilário/a Batalha.
Inês Peixoto, a Condessa Ilse.
 
     A solução encontrada por Gabriel Villela para o desfecho é engenhosa mostrando Pirandello em cena escrevendo o final do segundo ato e as últimas palavras do mesmo que são ditas pela personagem Diamante “Eu tenho medo! Eu tenho medo!”. A seguir num tipo de teatro de sombras ele mostra o que teria acontecido para a Condessa na apresentação da peça A Fábula do Filho Trocado (peça dentro da peça) para o povo dos gigantes. Esse último momento é baseado nas indicações que o autor fez ao seu filho, como já citado acima.

 
 
 
     Belíssimo espetáculo com claras referências às dificuldades de se fazer bom teatro no Brasil. Deixa-se o espaço com a alma alimentada.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

NADA...




     Uma senhora simpática acolhe o público em sua sala de jantar no dia do aniversário do patriarca da família. Somos convidados a sentar nas cadeiras encostadas nas paredes laterais e abajures ao lado das cadeiras iluminam suavemente o ambiente. Ao fundo um piano encravado numa profusão de vidros e de lâmpadas acesas.
 
 
     O casal Maria e Lourival; sua enteada Tereza, filha de uma prima de Maria que morreu; a suave e desmemoriada prima Dalila e o empregado Cícero estão reunidos conosco para comemorar os 80 anos do Vô Joaquim. De repente chega Ana, filha do casal, que os havia abandonado há algum tempo. Sua chegada desestabiliza o ambiente, mas aos poucos os ânimos vão voltando e a família rememora momentos do passado, onde talvez eles tenham sido mais felizes. Tudo isso em total comunhão com o público fazendo-nos cúmplices de suas lembranças e compartilhando bebidas e guloseimas da festa. O final da  festa tem gosto amargo, por qual razão, não cabe contar aqui.
     Não há nenhuma indicação, mas tudo parece se passar num ambiente não urbano e distante de qualquer vizinhança. Apesar do programa e a sinopse da peça comentarem que a peça trata do universo de Manoel de Barros relacionado à linguagem de Beckett, os silêncios e as situações criadas me remeteram ao mundo das tristes, solitárias e sem perspectivas personagens de Tchekhov; mas tudo isso não importa: esse é o universo dos irmãos Guimarães que realizaram um belíssimo e sensível espetáculo e que tem a sua marca registrada

     Os atores (todos ótimos) atuam de forma muito natural e ao longo da peça parece que se tornaram nossos amigos íntimos. Ao final da festa, quando eles se retiram, nos deixam com uma sensação de abandono e solidão. O silêncio do público é o melhor aplauso para esse que é mais um dos bons espetáculos estreados no segundo semestre.
 
     Nada, Uma Peça Para Manoel de Barros está em cartaz no Sesc Belenzinho  de quinta a sábado às 21h30 e aos domingos às 18h30, até 06 de outubro. São poucos lugares, corra para garantir o seu.