Essa
cantora careca é mesmo de morte! Continua não dando as caras no teatro onde é
ansiosamente aguardada.
Estreou
na última sexta feira (16/02) no Teatro Aliança Francesa uma nova montagem
dessa pérola do, assim batizado por Martin Esslin, Teatro do Absurdo. A peça
fecha a trilogia do festival Que Absurdo!,
realização conjunta dos grupos TAPA e
Das Dores.
Em
São Paulo A Cantora Careca ganha
constantemente leituras e montagens amadoras, mas raramente é encenada
profissionalmente. Ao que me consta, a última ocorreu no longínquo ano de 1970
no palco do Teatro Oficina com direção de Antônio Abujamra.
E
eis que esta jovem senhora (ou senhorita?) retorna triunfante pelas mãos mais do
que apropriadas de Eduardo Tolentino, mantendo todo o frescor de seus 69 anos
de vida. Ionesco (1909-1994) a escreveu em 1949, e ela está em cartaz
ininterrupto desde 1957 no Théâtre de la
Huchette no Quartier Latin parisiense.
Tolentino
não precisou de nada mais do que um palco nu e de poucos adereços para colocar
um elenco de primeira em cena a desfilar os deliciosos diálogos non sense de que é formada essa
verdadeira joia do teatro universal. Na verdade a montagem é um extenso “número
de cortina” (designação surgida no teatro de revista para esse tipo de cena).
Mariana
Muniz oferece mais do que o original pede. Além de narrar o início da peça, ela
empresta sensualidade e ironia para sua personagem Mary. Guilherme Sant’Anna
toma conta da cena quando o bombeiro começa a contar suas histórias. E os dois
casais (Martin e Smith) são vividos com muito humor pelos talentosos Clara
Carvalho, Emilia Rey, Brian Penido Ross e Riba Carlovich, todos “adequadamente”
vestidos para um jantar inglês. O perfeito tempo de comédia dos atores pode ser
avaliado na primeira cena dos Smiths, no encontro dos Martins e na saborosa
cena final onde se acaba de vez com qualquer tipo de lógica.
A Cantora Careca foi escrita no período
pós-guerra quando a realidade era absurda, havia desesperança no ar e a falta
de comunicação entre as pessoas era grande. Havia, por traz da situação cômica,
uma triste constatação de que a humanidade caminhava em marcha ré. De lá para
cá, com o progresso tecnológico galopante, as coisas só pioraram e o resultado
é que continuamos a rir de nosso desencanto com os destinos do homem ao
assistir esse saboroso espetáculo.
O
Festival do Absurdo segue até 15/04 no Teatro Aliança Francesa com a seguinte
programação:
AS
CRIADAS – Quartas e quintas – 20h30
A
CANTORA CARECA – Sextas – 20h30 e sábados – 19h
UMA
PEÇA POR OUTRA – Sábados – 20h30 e domingos – 19h
19/02/2018
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