Foto de João Caldas
Segundo
a astrologia, a conjunção de astros no espaço celeste é tida como momento
mágico para a humanidade. O mesmo sucede quando um raro momento teatral conjuga
dramaturgia, direção, elenco, iluminação, cenografia, figurino e trilha sonora
e alguns privilegiados dessa humanidade têm o prazer de testemunhá-lo.
Isso
aconteceu ontem na estreia de Aproximando-se
de A Fera da Selva no Centro Cultural
São Paulo, coprodução da Canto Produções e Meimundo.
Em
sua segunda incursão na dramaturgia (a
primeira foi com a bem sucedida Alice –
Retrato de Mulher Que Cozinha ao Fundo), Marina Corazza mescla momentos
da vida e do relacionamento do escritor norte-americano Henry James (1843-1916)
com a escritora norte-americana Constance Fenimore Woolson (1840-1894), com
trechos (narrados e interpretados) do conto A
Fera na Selva de Henry James e
com observações dos atores dirigidas diretamente ao público. Essa complexa
mistura chega até o espectador de maneira harmoniosa e delicada.
A dramaturga Marina Corazza
A
elegante encenação de Malú Bazán traduz de maneira ímpar o clima proposto pelo
texto. Desde a movimentação dos atores (alguns momentos mereciam ser fixados
para a posteridade como o puxar das cortinas, a atriz sentada no chão com a
saia apenas colocada sobre seu figurino básico, o primeiro encontro dos dois
escritores e a cena onde Henry James descreve o breve encontro erótico com seu companheiro
de quarto Oliver enquanto vê-se a atriz deitada de costas para o público com o
dorso nu) até o melhor uso que já se fez do Espaço Ademar Guerra desde 1994
quando Francisco Medeiros alí apresentou sua antológica encenação de A Gaivota.
Conforme
citado acima a aparentemente simples cenografia de Renato Caldas faz com que o
espaço contribua com o espetáculo ao contrário de outras montagens ali apresentadas
onde parecia haver uma disputa entre elas e o local. Limitado por cortinas que
são manipuladas pelos atores, o espaço cênico contorna os graves problemas de
acústica do local.
A
iluminação de Miló Martins banha o espaço oferecendo momentos que tornam
perfeita a conjunção dos elementos.
Figurinos
simples de Mareu Nitzchke constituídos de vestes cinza muito parecidas dos dois
atores que são adornadas por um colete e uma saia que têm contribuição decisiva
para o entendimento da trama.
Pontual
e também perfeita é a trilha sonora de Daniel Maia.
Parece
que faltou algum elemento nessa conjunção: a cumplicidade cênica de Gabriel Miziara
e de Helô Cintra Castilho. Miziara, dono de imenso talento, já demonstrado em
tantos trabalhos, está perfeito nas diversas personagens que interpreta e a
grande surpresa para mim é a interpretação de Helô Cintra Castilho: afastada
dos palcos há algum tempo, por conta de suas atividades como assessora de
imprensa, retorna em grande estilo com belíssima interpretação tanto da
personagem de Constance, como da protagonista do conto e da narradora informal
que dialoga com o público. Helô transita com rara elegância pelo palco lembrando
as dançarinas criadas por Degas.
Pode-se
achar que esta matéria abusa dos elogios, mas como foi citada no início essa
preciosa conjunção precisava ser louvada.
Algo
significativo ocorreu nos agradecimentos: o público, constituído basicamente
por elementos da classe teatral, aplaudiu calorosamente demonstrando claramente
a sua aprovação, mas não se levantou. Aplaudir de pé se tornou algo tão banal
que essa atitude bonita, no meu modo de ver, mostrou o respeito e a adesão dos
presentes ao espetáculo.
Noite
memorável fechada com chave de ouro com um brinde oferecido aos presentes.
Fim da festa
APROXIMANDO-SE
DE A FERA DA SELVA está em cartaz no Espaço Ademar Guerra do Centro Cultural
São Paulo de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 20h. Entrada gratuita.
IMPERDÍVEL.
02/02/2018
Obrigada querido... emocionante
ResponderExcluirVi hoje e gostei muito tambem
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