Concepções
cênicas arrojadas, criativas e arrebatadoras têm sido constantes nas encenações
de Eric Lenate e Funâmbul@s não foge
à regra. Em palco quase nu, o diretor brinca com as luzes, com os sons e os
movimentos do elenco para criar espetáculo feérico que enche os olhos do
espectador desde a primeira em cena onde a personagem Júlia anda na corda
bamba.
Problemas
técnicos no som inviabilizaram a apresentação na estreia. Tendo recebido o
texto na ocasião, tive a oportunidade de lê-lo antes de assistir à montagem na
semana seguinte. Priscila Gontijo usa mote muito simples e corriqueiro - três
irmãs às voltas do que fazer com o pai senil – para desenvolver narrativa
fragmentada onde se entrelaçam três situações: peça/realidade/sonho. Apesar de
entremear talentosamente teatro do absurdo, metalinguagem e teatro realista a
dramaturga às vezes recai em certa prolixidade que prolonga desnecessariamente
a trama. Na leitura do texto nem sempre ficou claro para este leitor em qual
das três situações se estava e fiquei curioso em ver como o diretor resolveria
esse aspecto.
A
prolixidade que vejo no texto se acentua na montagem: o longo monólogo de Júlia
na corda bamba que aparece duas vezes no texto, na encenação é repetido três
vezes e a cena onde Seu Augusto em seu desvario interpreta uma cena de Júlio
Cesar transformou-se em um longo pot-pourri de falas de personagens das peças de
Shakespeare que se por um lado mostram o imenso talento de ator de Lenate, por
outro prolongam ainda mais a peça.
Quanto
às três situações (peça, realidade, sonho) o encenador tenta fazer a
diferenciação por meio do belo jogo de luz criado por Aline Santini, mas nem
sempre isso fica claro para o espectador. Juntem-se à iluminação, os figurinos
clownescos de Rosângela Ribeiro, a precisa trilha sonora de L.P. Daniel. os
adereços de Lenate e o visagismo (não creditado) para criar junto com a
movimentação do elenco um todo que funciona de maneira harmoniosa e
perfeitamente sincronizada.
Quanto
ao elenco, a primeira surpresa vem com a personagem criada por Michelle
Boesche. Michelle revela profundo preparo físico para andar na corda bamba,
fazer piruetas em cena e preparo interpretativo ao fazer tudo isso dando humanidade
à sua Júlia.
Vanise
Carneiro cria a extrovertida Clara jogando muito bem com as variações vocais
exigidas pela personagem.
A
mais humana das três, Ana, ao que me parece, é o alter ego da dramaturga, não
só por também ser escritora, mas pelas posições que defende. Rafaela Cassol
defende Ana com muito carinho e talento.
Eric
Lenate vive Seu Augusto com expressão corporal que jamais esquece a velhice e a
senilidade do personagem. Revela muita ternura e compreensão do mundo no belo
diálogo com a filha Ana quase ao final, assim como sua versatilidade como ator
no já citado intermezzo shakespeariano.
Pela
proposição do encenador o elenco emite sua voz em falsete durante quase toda a
apresentação, fato que em certos momentos dificulta a compreensão do texto.
Fotos de Leekyung Kim
FUNÂMBUL@S
está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 11/03/2018 ás sextas e sábados
(21h) e domingos (20h)
10/02/2018
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