Eis
que mais uma vez a companhia carioca Amok
Teatro nos brinda com um significativo espetáculo. A última vez foi em 2016 com Salina – A Última Vértebra e agora em temporada
relâmpago de apenas oito espetáculos é a vez de Os Cadernos de Kindzu, criado pelos encenadores Ana Teixeira e
Stéphane Brodt, a partir da obra Terra
Sonâmbula do moçambicano Mia Couto.
Os Cadernos de Kindzu é encenação de
caráter épico que narra a saga do rapaz Kindzu, sua relação com os pais (o pai
está morto, mas lhe aparece) e com o adorável indiano Surendra, sua partida da
terra natal devastada pela guerra, a descoberta de um navio e o encontro com
Farida pela qual ele se apaixona e assume o encargo de partir em busca do filho
da moça. Narrativas paralelas surgem ao longo de sua trajetória. Parte da peça
é falada na língua nativa e em português lusitano.
Em
cenário limpo onde os atores permanecem mesmo quando não estão em ação veem-se
os objetos de cena e os instrumentos que serão usados tanto na interpretação
das belas canções compostas pelo grupo como também na criação de sons que
ilustram as cenas (barulho do mar, movimentos dos atores). O desenho de luz de
Renato Machado é responsável pelos belíssimos recortes de cena (uma jangada,
uma cama, os diversos recintos onde se passam as ações e até um “toque” de mar
no azulado do instrumento que reproduz o barulho das ondas).
Thiago
Catarino tem forte presença cênica e faz interpretação emocionada do perplexo
protagonista, chegando às lágrimas em vários momentos da peça. Stéphane Brodt
brilha na hilária cena em que é apresentado o indiano Surendra. Graciana Valladares
tem força como a sofrida Farida e renderia mais se fosse menos melodramática e
não gritasse tanto. Luciana Lopes está ótima como a prostituta cega Juliana,
mas não convence tanto como a mãe como a narradora do estupro devido à
entonação de voz extremamente artificial. Gustavo Damasceno, Sérgio Loureiro e
Vanessa Dias (dona de bela voz) completam o elenco.
A
direção de Ana Teixeira e Stéphane Brodt é bastante criativa conjugando
harmoniosamente elenco, cenário, figurino, iluminação e as belas canções de
estilos indiano, africano e português que embalam todo o espetáculo. No meu
modo de ver a encenação lucraria com alguns cortes na narrativa (saga de Farida
é excessiva, conversa de Quintinho com o defunto) reduzindo as atuais duas
horas de duração.
Pela
beleza da encenação e das músicas apresentadas e pelo tema tratado (imigrantes
fugindo das atrocidades provocadas por guerras insanas) Os Cadernos de Kindzu é espetáculo que precisa ser visto.
Não
haverá apresentações no Carnaval. As últimas ocorrerão nos dias 15, 16, 17 e 18
de fevereiro sempre às 19h15. Na Caixa Cultural (Praça da Sé). Ingressos
gratuitos.
05/02/2018
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