domingo, 18 de fevereiro de 2018

MEDEA MINA JEJE

Foto Julieta Bachin

        Ao som do mar revolto, uma sensação de pequenez diante do universo invade o espectador ao adentrar o espaço onde vai testemunhar o drama da escrava Medea. Graças ao ambiente criado pela diretora Juliana Monteiro,a  imensidão do universo está toda ali, naquele espaço do Sesc Ipiranga que não tem mais do que 50 metros quadrados. Bendita magia do teatro e seus feiticeiros.
        Uma bem sucedida junção do mito grego com rituais africanos (idealizada por Kenan Bernardes e Rudinei Borges e escrita por este último) resultou em dos mais belos e pungentes espetáculos em cartaz na cidade. O bem arquitetado e poético texto relata o drama dessa mulher que opta por sacrificar o filho Age para que ele não seja perseguido e castrado pelo capitão do mato Jasão. A cena onde ocorre o diálogo entre Medea e Jasão sobre a sina do menino é muito forte e me remeteu a outra obra prima que a arte brasileira insiste em nos oferecer; trata-se da canção Tiro de Misericórdia (João Bosco e Aldir Blanc). Quantas mães, neste pobre Brasil, não sofrem esse mesmo drama, com seus filhos barbarizados pelo perverso sistema em que vivemos? Medea Mina Jeje é trabalho urgente para refletir sobre a exploração de crianças pelo trabalho escravo.
        Tragédia tão intensa é mostrada como um poema visual belíssimo por meio da encenação de Juliana Monteiro que harmoniza de maneira brilhante o texto de Rudinei Borges com seu próprio cenário, a belíssima luz de Wagner Antônio, o poderoso som de João Paulo Nascimento, o figurino de Carol Badra e, é claro, a performance, não menos que magnífica, de Kenan Bernardes.
        Kenan Bernardes canta , dança, narra e interpreta a tragédia de Medea por meio de visceral trabalho de voz e corpo (provocação corporal de Luciana Lyra) deixando o espectador perplexo e emocionado.
        É louvável testemunhar que uma produção de caráter modesto como essa reúna profissionais tão criativos e competentes resultando em um dos melhores momentos da nossa recém iniciada temporada teatral. 45 minutos de puro prazer estético com direito a reflexão sobre a realidade brasileira.
        E para encerrar, nada melhor do que Nina Simone cantando I Got Life!

        MEDEA MINA JEJE sai de cartaz do Sesc Ipiranga neste domingo (18/02 às 18h30), mas deve cumprir nova temporada em local que reúna as características de luz e som necessárias e fundamentais para o seu bom rendimento .  Fique atento! É espetáculo imperdível.

18/02/2018

        

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