quarta-feira, 4 de abril de 2018

A SERPENTE


Ygor Fiori, Ana Negraes, Patrícia Gordo, Liz Reis e Valdir Rivaben

        Muito já se escreveu que A Serpente, última peça de Nelson Rodrigues (1912-1980) , é um compêndio das taras e obsessões presentes em sua obra. Sintética, conta em menos de uma hora a relação fraterna/amorosa/doentia das irmãs Ligia e Guida e suas experiências conjugais com os maridos, Décio e Paulo, respectivamente. Casaram no mesmo dia e habitam o mesmo edifício, sendo que os gritos e sussurros do ato sexual de Guida e Paulo são ouvidos por Ligia, enquanto Guida estranha não ouvir nem sussurros e muitos menos gritos de Ligia e Décio. Um trato firmado entre as duas irmãs, fatalmente vai terminar em tragédia. Típico Nelson Rodrigues.


        Com surpreendente domínio de cena, a diretora Lavínia Pannunzio acerta ao imprimir tom expressionista ao espetáculo, carregando no tom de todos os elementos desde as interpretações (vocal e gestual) passando pelos figurinos de Rosangela Ribeiro e atingindo o auge no impressionante visagismo criado por Cristina Cavalcanti. A iluminação de Aline Santini colabora grandemente para o desenvolvimento da trama, adquirindo importância capital nos momentos finais do espetáculo onde uma criativa solução encontrada pela encenadora resolveu problema no desfecho, que é verdadeiro desafio para quem se propõe a encenar esta peça.


        Patrícia Gordo tem significativo momento em sua carreira com uma interpretação vigorosa como Guida, usando toda sua potência vocal e corporal para presentificar os complexos sentimentos de amor e ódio de sua personagem. Ana Negraes tira partido de seu belo visual para criar a Criola que, a meu ver, foi aquela imaginada por Nelson Rodrigues. Liz Reis, Ygor Fiori e Valdir Rivaben seguem a mesma linha interpretativa dando grande unidade ao todo.
        A peça é encenada em um espaço bonito, aconchegante e bem aparelhado tecnicamente, situado no anexo do Teatro Arthur Azevedo e que leva o nome de “Sala Multiuso”. Atenção, encenadores e produtores, não percam esse espaço de vista!
        A SERPENTE está em cartaz às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h até 22 de abril. Posteriormente é bem provável que cumprirá temporada em outros teatros, mas assisti-la no espaço presente tem efeito especial e merece uma ida até a Mooca.

            Fotos de Lenise Pinheiro

        03/04/2018    


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