Ygor Fiori, Ana Negraes, Patrícia Gordo, Liz Reis e Valdir Rivaben
Muito
já se escreveu que A Serpente, última
peça de Nelson Rodrigues (1912-1980) , é um compêndio das taras e obsessões
presentes em sua obra. Sintética, conta em menos de uma hora a relação
fraterna/amorosa/doentia das irmãs Ligia e Guida e suas experiências conjugais
com os maridos, Décio e Paulo, respectivamente. Casaram no mesmo dia e habitam
o mesmo edifício, sendo que os gritos e sussurros do ato sexual de Guida e Paulo
são ouvidos por Ligia, enquanto Guida estranha não ouvir nem sussurros e muitos
menos gritos de Ligia e Décio. Um trato firmado entre as duas irmãs, fatalmente
vai terminar em tragédia. Típico Nelson Rodrigues.
Com
surpreendente domínio de cena, a diretora Lavínia Pannunzio acerta ao imprimir
tom expressionista ao espetáculo, carregando no tom de todos os elementos desde
as interpretações (vocal e gestual) passando pelos figurinos de Rosangela
Ribeiro e atingindo o auge no impressionante visagismo criado por Cristina
Cavalcanti. A iluminação de Aline Santini colabora grandemente para o
desenvolvimento da trama, adquirindo importância capital nos momentos finais do
espetáculo onde uma criativa solução encontrada pela encenadora resolveu
problema no desfecho, que é verdadeiro desafio para quem se propõe a encenar esta
peça.
Patrícia
Gordo tem significativo momento em sua carreira com uma interpretação vigorosa
como Guida, usando toda sua potência vocal e corporal para presentificar os complexos
sentimentos de amor e ódio de sua personagem. Ana Negraes tira partido de seu belo
visual para criar a Criola que, a meu ver, foi aquela imaginada por Nelson
Rodrigues. Liz Reis, Ygor Fiori e Valdir Rivaben seguem a mesma linha
interpretativa dando grande unidade ao todo.
A
peça é encenada em um espaço bonito, aconchegante e bem aparelhado
tecnicamente, situado no anexo do Teatro Arthur Azevedo e que leva o nome de
“Sala Multiuso”. Atenção, encenadores e produtores, não percam esse espaço de
vista!
A
SERPENTE está em cartaz às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h
até 22 de abril. Posteriormente é bem provável que cumprirá temporada em outros
teatros, mas assisti-la no espaço presente tem efeito especial e merece uma ida
até a Mooca.
Fotos de Lenise Pinheiro
03/04/2018
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