segunda-feira, 9 de abril de 2018

AMIGAS, PERO NO MUCHO



        Por que eu levei onze anos para ir assistir a Amigas, Pero No Mucho?
        - Talvez por achar, pelo título, que se tratasse de mais uma comédinha caça níquel, dessas que infestam os teatros Ruth Escobar, Gazeta e Maria Della Costa e que levam multidões a esses teatros aos sábados, antes ou depois da pizza.
        - Talvez por subestimar os dotes dramatúrgicos da querida Célia Forte, de talento comprovado em outras áreas como produção teatral e assessoria de imprensa.
        - Talvez por não ter levado em conta a ficha técnica do espetáculo para constatar que ali havia profissionais que levam a arte teatral muito a sério, como José Possi Neto, Miguel Briamonte, Vivien Buckup, Wagner Freire e o próprio elenco.
        Talvez, talvez, são tantos “talvezes”... O que importa é que neste retorno ao palco do Teatro Renaissance onde estreou em 2007, eu finalmente fui usufruir dessa verdadeira delícia que é Amigas, Pero No Mucho.
        Para começar, o título aplica-se perfeitamente àquelas quatro senhoras que são amigas enquanto estão juntas, mas que basta uma sair para as restantes falarem cobras e lagartos sobre ela (quantas vezes você já deve ter sentido isso ao querer ser a última pessoa a sair de uma festa para que não seja alvo da língua alheia!). Rola muita hipocrisia na relação delas, mas no fundo elas se gostam e uma depende da outra para preencher suas solidões.
        O texto de Célia Forte é ótimo. Bem escrito, enxuto, com diálogos fluentes, retrata de forma cômica, mas bastante humana o encontro numa tarde de sábado daquelas quatro amigas no apartamento de uma delas, provavelmente situado no bairro do Belenzinho, segundo as palavras do diretor no programa. Tendo em vista as qualidades e a maturidade deste texto, lamenta-se que Célia escreva tão pouco para teatro.
        A direção de José Possi Neto acertadamente concentra-se na atuação dos atores utilizando cenário (Jean-Pierre Tortil) e iluminação (Wagner Freire) simples, mas eficientes, para localizar os três espaços onde se desenvolve a ação da peça. É muito bom o recurso inicial narrado por Denise Fraga apresentando as personagens com os atores ainda vestidos como homens e dando as rubricas das ações iniciais.

Leandro Luna e Elias Andreato

        Todos os aplausos para os quatro atores que não caricaturizam as mulheres, dando-lhes vida com um toque cômico no limite da dignidade. Leandro Luna é Sara, a amiga mais jovem e mais sensual, filha de um político corrupto (será que existem políticos corruptos neste Brasil??!!). Sérgio Rufino é Olívia, perfeito na caracterização de uma senhora de meia idade que perdeu tudo e hoje tem que dirigir uma van escolar para sobreviver. Raphael Gama é Débora, a conciliadora, que recebe as amigas em sua casa e que com suas caras e bocas é responsável por boas risadas da plateia. Elias Andreato é a revoltada e desbocada Fram, sempre esbravejando e desesperada para copular, uma vez que é ninfomaníaca; com perfeito domínio de cena, Elias faz e desfaz, levando não só o público às gargalhadas, mas também seus parceiros de palco, em função dos cacos que introduz em cena. Os quatro estão perfeitos fazendo o público rir sem parar durante a deliciosa hora e meia de duração do espetáculo.
        Amigas, Pero no Mucho é diversão de alto nível que faz jus aos onze anos que está na ativa e por onde já passaram tantos atores de talento nos papeis das quatro amigas (ao que eu saiba o único remanescente da primeira temporada é Elias Andreato). Com certeza vai cumprir o mesmo destino de outra companheira que faz divertir dignamente sem cair no meramente comercial que é Trair e Coçar É Só Começar de Marcos Caruso. Longa vida a ambas.

        AMIGAS. PERO NO MUCHO está em cartaz no Teatro Renaissance aos sábados (19h) e aos domingos (20h). NÃO PERCA!

        09/04/2018

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