O
que você acha de uma fábula onde um rato se apaixona por uma baratinha? Pode-se
dizer que se trata do limite da diversidade e, por consequência, o limite do
preconceito e da intolerância. Como toda boa fábula, ela nos remete a situações
vividas nos dias de hoje por nós humanos, ditos civilizados. A boa ideia é o
tema da dramaturgia de Fábio Espírito Santo, com um bem vindo tratamento
politicamente incorreto; afinal ela está falando diretamente dos “esgotos” de
nossas cidades. O toque político também é dado pela disputa entre os asquerosos
pais dos protagonistas: o Senador Ratazana e o Dr. Barata.
O
grande achado da montagem é que se trata de um musical, com canções de Jarbas
Bittencourt e Ronei Jorge, do tipo que você ouve pela primeira vez e já sai do
teatro cantarolando e querendo ouvir de novo. As letras são boas, mas estão
aquém das envolventes melodias, tendo de se adequar a elas com repetições
forçadas de frases e/ou estrofes, em recurso relativamente fácil. Será notável
o dia em que o grupo registrar essas canções em estúdio e lançar em CD, que com
certeza terão vida própria para além do espetáculo.
As
interpretações que envolvem fala, canto e dança são bravamente defendidas por
elenco e músicos excelentes. Com voz surpreendente Adriana Capparelli defende a
patética personagem de Madame Ratazana cantando dois solos de arrepiar que
fazem lembrar aqueles não menos arrepiantes de Dalva de Oliveira. Presença
cênica poderosa, Thaís Dias narra boa parte da ação e canta muito bem.
Completando o lado feminino, Aline Machado empresta sua bela voz para a
baratinha Dona. Beto Mettig (Senador Ratazana) e Eric de Oliveira (Dr. Barata)
têm forte presença cênica, em especial, nas cenas de embate entre os dois
personagens. Pietro Leal, com voz doce e suave, interpreta Dom, o ratinho
apaixonado, e tem um belo momento no dueto com Madame Ratazana.
Os
músicos Beatriz Pacheco, Eric Budney, Maurício Braga, Raquel Freitas e Ricando
Caian, sob a direção musical dos compositores, são não menos que ótimos, além
de participarem da ação.
A
criativa encenação assinada pelo autor e por Ana Paula Bouzas conta com os
figurinos bastante originais de Bettina Silveira e se desenvolve no
propositalmente “sujo” cenário também de Fábio Espírito Santo.
O
curioso é que espetáculo tão politicamente incorreto tenha um final conciliador
com o destino acidental que dá ao Rato Dom, fato que surpreendeu e digamos que,
de certa maneira, decepcionou este crítico. Já o destino dado a Dona, a meu
modo de ver, é coerente com a proposta da montagem. Tais fatos, porém, não
tiram o brilho desse surpreendente musical cem por cento brasileiro que merece
ser visto.
AMOR
BARATO está em cartaz no Teatro Itália às quartas e quintas feira sempre às 21h
até 31 de maio. NÃO PERCA, VOCÊ VAI SE SURPREENDER!
20/04/2018
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