Como
encarar o inimigo? Para escrever sobre o assunto o dramaturgo Alexandre Dal Farra
iniciou suas pesquisas entrevistando pessoas (trechos dessas entrevistas são
apresentados em vídeo durante a apresentação), talvez buscando criar algo do
gênero “teatro documentário”, mas parece ter desistido da empreitada e partiu
para o “teatro do absurdo”, mesclado com alguns ingredientes do gênero anterior
em alguns monólogos documentais. O resultado é um híbrido irregular.
Pai,
mãe e filha de antemão inseguros e descompensados que vivem em algum lugar
inóspito, são surpreendidos com a visita de dois estranhos e reagem de formas
diversas: a filha é a única a questionar a situação, o pai reage de forma
incrédula e patética e a mãe é a rainha da passividade, achando tudo normal.
Quem
são aqueles invasores? O que eles pretendem? Pergunta-se o espectador. Dal
Farra põe a resposta em uma fala da mãe: “Não dá para entender tudo!”.
O
espetáculo mistura situações claramente inspiradas no teatro do absurdo que
fazem o público rir, com momentos sérios e mesmo tensos em geral criados pela
virulência de um dos invasores. Talvez a cena mais inspirada da peça esteja no
monólogo da mãe onde ela declara que o medo provocado ao ouvir algo é muito
mais terrível do que aquele que surge ao olhar alguma coisa amedrontadora. Curiosamente a única sobrevivente após a
chegada dos estranhos/inimigos é a passiva mãe. Qual reflexão que Dal Farra
pretende provocar no espectador com esse desfecho?
A
encenação do próprio dramaturgo conta com excelente trilha sonora de Miguel
Caldas que reforça certo suspense sugerido pela ação; cenário do autor e de
Clayton Mariano; assim como figurinos da dupla (diga-se que neste quesito os
figurinistas privilegiam o olhar do espectador com os trajes sumários das
atrizes que fazem a mãe e a filha).
O
elenco afiado é o ponto forte do espetáculo: Clayton Mariano representa o
patético pai, sempre surpreso com todas as situações que se apresentam. A
filha, única personagem realista da trama, ganha a interpretação de Sofia
Botelho. Nilceia Vicente é presença iluminada como a visitante de violência
moderada. André Capuano joga toda sua exuberância física no invasor violento. A
presença cênica de Gilda Nomacce é poderosa: atriz de excelentes dotes
artísticos e físicos, ela hipnotiza o espectador em todas suas intervenções.
FLORESTA
está em cartaz no SESC Ipiranga com seis apresentações por semana (que
maravilha!): terças e quartas (19h30), quintas, sextas e sábados (21h) e
domingos (18h). Temporada curtíssima até 09/02/2020.
17/01/2020
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