Simples,
bonito, delicado e profundo... Como Clarice.
A
meu ver esses adjetivos são os que melhor qualificam o espetáculo de Stella
Tobar que explora as cartas que uma jovem Clarice Lispector escrevia para as
suas irmãs Tania e Elisa quando vivia fora do Brasil acompanhando o marido diplomata.
Clarice se sentia deslocada longe de sua família e do Rio de janeiro e sem
inspiração para escrever. Acredito que essas cartas foram o meio que ela achou
para dar vazão à sua criatividade com as letras.
Tobar dramaturga usou como recorte do seu
texto esse período que vai de 1945 até meados dos anos 1950.
Tobar
encenadora dinamiza a leitura/apresentação das cartas com diálogos das atrizes
sobre a vida e a personalidade da escritora, pondo em cena as baratas e os ovos
tão presentes na escrita de Lispector. Há também divertidos momentos de distanciamento
quando uma das atrizes pede ajuda à outra porque esqueceu o texto.
O
cenário de Kleber Montanheiro formado de painéis é montado pelas atrizes diante
do público no início da peça e desmontado ao final deixando o palco nu. Alguns
adereços e muitas malas complementam o cenário que se vale também de projeções em vídeo de
autoria da dramaturga/encenadora. As atrizes vestem trajes claros e leves criados
por Carol Badra. Tudo isso sob a luz protetora de Adriana Dham.
Atuando
de maneira espontânea e delicada as atrizes Marilene Grama e Simone Evaristo sabem
dosar a ternura e os sentimentos contidos nas cartas com momentos mais leves
como as rupturas de cena já citadas acima e até com toques de humor como a
deliciosa cena em que Marilene descasca um ovo e o come com muita gula em um
canto do palco.
O
ovo quebrou,
O
espetáculo acabou,
O
povo gostou!
Clarice também ia gostar.
OBS:
Este espetáculo dá início ao evento “Clarice, Contexto” no ano em que se
comemora o centenário de nascimento da autora.
MINHAS
QUERIDAS está em cartaz no SESC Pinheiros até 08/02, de quinta a sábado às
20h30.
11/02/2020
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