Jean-Luc Lagarce foi
um dramaturgo francês nascido em 1957 e morto prematuramente em 1995 em
decorrência da AIDS.
Bastante encenado na
França e no exterior, chega a São Paulo apenas em 2006 por meio de leituras de
seus textos promovidas pela ECA -USP e pelo Consulado da França.
No ano seguinte, História
de Amor (Últimos Capítulos) foi a primeira encenação profissional de um
texto do autor realizada em nossos palcos, com direção de Antônio Araújo. Nesse
mesmo ano Marcelo Lazzaratto dirige Eu Estava Em Minha Casa e Esperava Que a
Chuva Chegasse, texto que seria retomado por Antunes Filho em 2018 e que
se tornou sua última direção. Em 2009 Luiz Päetow fez interessante encenação de
Music Hall e em 2019 foi a vez do Grupo Magiluth visitar a
obra de Lagarce em memorável encenação de Apenas o Fim de Mundo dirigida
por Giovana Soar e Luiz Fernando Marques. Essas são, ao que eu saiba, as peças
de Jean-Luc Lagarce apresentadas nos palcos paulistanos, o que é pouco perto da
importância de sua obra bastante longa (mais de 25 textos de inegável
qualidade).
Por iniciativa de
Osmar Pereira, chegou a vez de Lagarce ser apresentado no teatro virtual e isso
acontece por meio de uma criativa encenação de História de Amor (Últimos
Capítulos) na forma de peça filme.
A peça conta a
história de um extinto triângulo amoroso muito harmonioso entre dois homens e
uma mulher. O Primeiro Homem escreve a história desse relacionamento, enquanto
a Mulher e o Segundo Homem fazem observações sobre os fatos narrados.
A direção de Tiago
Luz é bastante original e muito bonita, principalmente, nas cenas filmadas em
preto e branco que mostram a leveza e a beleza que tomavam conta do relacionamento
a três. Com auxílio da bela fotografia de Osmar Pereira as cenas remetem à Nouvelle
Vague francesa dos anos 1960 e especialmente aos filmes de François
Truffaut, chegando a reconstituir a cena antológica de Jules et Jim (1962)
onde o trio atravessa uma ponte correndo.
Usando várias
linguagens para contar a história (textos escritos, closes dos atores, cenas de
documentários e os já citados flashbacks) a encenação de Tiago Luz flui de
maneira prazerosa e elegante nos seus 40 minutos de duração. Grande mérito para
um texto que só é simples na aparência e que permite várias leituras.
A trilha sonora, que
vai desde clássicos famosos até o Besame Mucho na versão de Ray
Conniff passando por Ne Me Quitte Pas de Jacques Brel, é perfeita para
ilustrar e comentar a ação.
Três jovens atores
bastante talentosos dão conta de maneira surpreendente das personagens: Mulher
(Juliana Campos), Primeiro Homem (Osmar Pereira), Segundo Homem (Pedro
Conrado).
Pouco divulgado, este surpreendente espetáculo corre o risco de passar despercebido o que será uma lástima tanto para o grupo como para aqueles espectadores ávidos por bons trabalhos, mas que deixarão de apreciá-lo por desconhecer a sua existência.
13/09/2021
Serviço:
É gratuito e via Youtube.
Só acessar o link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=_INLea4POYg
Fiquei encantado com sua análise crítica, encantado com o trabalho de Tiago Luz! Estava falando com ele, virtualmente também, por zap, sobre as sensações e emoções que me causaram esse trabalho.
ResponderExcluirJosé! Que alegria imensa seu olhar para este trabalho criado e vivido nestes tempos incertos. A única certeza: a potência dos encontros! E suas palavras e seu gesto são, sem dúvida, disparadores de muitos encontros! Seguimos! Muito grato aqui!
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