Introdução à guisa de
aula de Geografia: “Placas tectônicas são enormes blocos que fazem parte da
crosta terrestre. Se por um lado blindam os continentes e os oceanos, por outro
lado ao serem movimentadas podem provocar terremotos, tsunamis e outros
desastres naturais.” Fim da aula de Geografia e conclusão dialética: Como tudo
na vida, as placas tectônicas têm seu lado bom e seu lado ruim.
O que é a nossa
memória senão a presentificação do passado? Na forma de placa tectônica a mãe do
protagonista Jorge surge para ele para ao mesmo acalentar e cobrar fatos
ocorridos no passado, ela vem acompanhada pelo irmão dele que também faz
cobranças ao personagem. Jorge é um latifundiário daqueles tão característicos deste
nosso Brasil que resolve tudo na truculência, expondo mulher, filha, amante,
comparsas e capangas a um caldeirão de violência.
Essa é a estrutura
básica da peça Tectônicas, significativo texto de Samir Yazbek em cartaz
no Teatro do Sesi.
O texto de Yazbek é
bastante enriquecido por criativa encenação de Marcelo Lazzaratto que também
assina o sugestivo cenário. Desta vez o excelente iluminador Lazzaratto abriu
mão da função deixando a mesma a cargo do não menos excelente Wagner Freire.
Outros três pontos que enriquecem ainda mais o espetáculo são a possante trilha
sonora de Dan Maia, os vídeos criados e dirigidos por André Guerreiro Lopes e
os figurinos de Marichilene Artsevskis, com um senão da minha parte, aos trajes
futuristas à la 2001, Uma Odisseia no Espaço da mãe e do irmão.
Como se pode notar
pela ficha técnica trata-se de espetáculo de esmerada produção, sem falar do
elenco, que além de numeroso, é muito bom e uniforme.
Maria Laura Nogueira
(Fabíola) e Sidney Santiago Kuanza (Marcelo) encarregam-se do jovem casal,
ainda imune aos valores fétidos da sociedade da qual Jorge é o maior
representante. Patrícia Gasppar é Luna, amante de Jorge e é responsável por
alguns momentos de humor da peça, em função de sua idolatria por Roberto
Carlos. Luciana Carnieli empresta dignidade a Marli, esposa submissa e covarde
e Heitor Goldflus é Emílio, comparsa de Jorge, com as mesmas características
morais de Marli. Sandra Corveloni e Mauro Schames têm presença forte e marcante
como a mãe Dolores e o irmão Alfredo. Em vídeo há a participação de Ademir
Emboava e Alexandre Borges.
Como se pode notar, o
personagem de Jorge é o centro da trama; tudo gira em função dele com suas
características tirânicas, egoístas e violentas e André Garolli agarra com
muita coragem essa desagradável figura entregando ao espectador uma grande e
emocionante interpretação. A emoção do ator nos agradecimentos deveu-se em
parte à presença do público, mas também em função de sua total entrega ao
personagem.
Na surpreendente cena
final a mãe pergunta insistentemente ao público se está a lhe ouvir, enquanto
Jorge procura mostrar a sua força com a arma em punho, dando sinal que só sai do
poder morto ou preso. Qualquer semelhança com nossa situação atual não é mera
coincidência.
Um barulho atordoante
toma conta da cena enquanto as luzes se apagam e a cortina fecha.
Aplausos entusiasmados
e agradecimentos emocionados, tudo como deve acontecer no teatro de verdade.
O TEATRO NOS UNE
O TEATRO NOS TORNA
FORTES
VIVA O TEATRO!
11/09/2021, 20 anos do atentado às torres gêmeas de Nova York e 48 anos do golpe militar de Pinochet no Chile.
SERVIÇO:
Tectônicas
Temporada no
Teatro do SESI-SP, no Centro Cultural Fiesp: de 10 de setembro
a 5 de dezembro de 2021.
Horários: sexta
e sábado, às 20h | Domingo, às 19h
Local: Teatro do
SESI-SP - Av. Paulista, 1.313 (Metrô Trianon-Masp)
Duração: 80 minutos
Gênero: drama
Classificação indicativa: 12 anos
Entrada gratuita. Reservas de
ingressos online disponíveis em www.sesisp.org.br/meu-sesi.
Novas reservas são abertas toda segunda-feira, às 8h, para as sessões daquela
semana.
Temporada no
YouTube do Sesi-SP: Estreia no 15 de setembro de 2021, às
20h, na plataforma Zoom. A partir desta data, a peça fica disponível no YouTube
do Sesi-SP até 20 de dezembro.
Mais informações: www.centroculturalfiesp.com.br
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